Vida útil

“A duração de nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado”. (Salmos 90:10)

Conforme estabelece a Bíblia, só tenho 17 anos de vida útil. O que fazer em dezessete anos? Quais as prioridades, já que não se tem tempo a perder?

Uma amiga, admiradora da banda Legião Urbana, cita sempre: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, porque se você parar pra pensar, na verdade não há... Outra amiga, essa espírita, lembra a filosofia de Chico Xavier: “Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo; aquilo que colocarmos nela corre por nossa conta".

Nós, os da chamada meia-idade, não temos mais a inconstância da adolescência, nem a responsabilidade da vida adulta, já que estamos estabelecidos, combatemos o “bom combate” e apenas descansamos sobre os louros de algumas vitórias e as frustrações de muitas derrotas pela vida afora.

E a crise da meia-idade? Na meia-idade, saem todos os demônios relegados para a sombra durante a primeira parte da nossa vida. Sentimentos proibidos de impotência e raiva; medos secretos de não sermos atraentes e de sermos rejeitados; fantasias encobertas de desejos sexuais; devaneios privados imbuídos de criatividade; perguntas não respondidas sobre o significado e o propósito das coisas. É todo um mundo de interrogações que nos assalta e nos persegue, até que nos voltamos para encarar a fera de frente. Tal como o rosto de Dorian Gray, também o nosso registra as marcas do tempo. Tal como o dele, o nosso conta uma história.

Mas voltando à angustiante pergunta pessoal do começo dessa croniqueta: o que fazer nos 17 anos que me restam? O “filósofo” Biu Penca Preta decreta que “a meia-idade é a altura da vida em que o trabalho já não dá prazer e o prazer começa a dar trabalho”. E o cretino segue fazendo piada de nossa situação: Você sabe que está chegando à meia-idade quando tudo dói e o que

não dói não funciona. Meia-idade é quando qualquer coisa que você

sente é realmente um sintoma. Meia-idade é quando você está

disposto a ceder seu lugar a uma senhora e não consegue.

Meia-idade: bem na hora que você se dá conta de que está prestes a descer a ladeira, seus freios falham. Meia-idade é quando quem te avisa pra ir mais devagar é o médico e não o guarda de

trânsito. Meia-idade é quando sua idade começa a aparecer na cintura!.

Na meia-idade você ainda sente vontade mas não lembra

exatamente do quê. Meia-idade é quando você sente vontade de se

exercitar e deita pra esperar passar. Meia-idade é quando seu médico lhe recomenda exercício ao ar-livre e você pega carro e sai guiando com a janela aberta. Na meia-idade, jantares a luz de velas não são mais românticos porque não se consegue ler o cardápio.

Meia-idade é quando em vez de pentear os cabelos você começa a "arrumar" os que sobram. Meia-idade: a época da vida em que o espelho se vinga. Meia-idade é quando sabemos todas as respostas e ninguém nos pergunta nada. Meia-idade é quando você tenta alisar as rugas das suas meias e percebe que não está usando meia nenhuma.

Já decidi: vou passar os 17 anos que me restam rindo da humanidade e fazendo piada de nossas próprias desgraças. É salutar.

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 22/05/2009
Código do texto: T1608127