PARAIBÊS: MINHA PRIMEIRA LÍNGUA ESTRANGEIRA
- Olhem! Estamos chegando! – avisou minha mãe, vendo algo pela janela. Todos pareciam ver a mesma coisa – É Cajazeiras!
Eu só via uma estátua de um homem de branco com os braços abertos. Como não estavámos indo para o Rio de Janeiro, só podia ser uma imitação da estátua do Cristo Redentor.
- A nossa estátua é bem mais linda que a dos cariocas – dizia um homem sentado do outro lado do corredor, lendo a minha mente - o que ele se esquecia de dizer era que já havíamos passado por, pelo menos, umas 15 estátuas parecidas ao longo da jornada. Aparentemente, todas as cidades nordestinas precisavam ter um morro com uma estátua de Cristo e uma praça com uma casinha, onde mantinham preso, um Padim Ciço.
- Tudo nosso é muito mais bonito! – confirmou a sua esposa, sentada ao seu lado.
Certo!
Não havia nada em Cajazeiras que lembrasse a Cidade Maravilhosa, além daquela imitação do Cristo e o sol escaldante. A praia mais perto ficava a quase 800 kilometros, as mulheres usavam pano na cabeça e vestido estampado com florzinhas, e as pessoas falavam um outro idioma.
Imaginem a minha surpresa, quando chegamos na rodoviária, e fomos recebidos por meu avô, minha tia e meus irmãos falando uma outra língua. Eu não compreendia nada do que eles falavam.
- Nehim, a qanto empoo! – dizia meu avô.
- Oxente! Ommmo o cê creeceuuu! – dizia minha tia.
Eu não entendia nada, olhava para a minha mãe, ela não me ajudava. Até meus irmãos já falavam aquela língua e aparentemente tinham esquecido como falar português.
Porém, coisa mágica é morar em terra estrangeira, quanto mais tempo eu escutava aquele novo idioma, mas fácil ia ficando para compreender; e dois dias depois, eu já estava falando paraibês fluentemente.
Com certeza, eu tinha nascido com um dom para as línguas e para as letras.