Das piruetas das letras
Escrever. Todo mundo quer ser escritor, poeta, jornalista, dar seu pitaco na vida e mostrar a sua verdade.
Tem gente que escreve compulsivamente, junta palavras, amontoa advérbios, engoma uns verbos esquisitos, daqueles que a gente tem que ir ao dicionário para entender. E tome de publicar em sítios virtuais, e tome de enviar para os amigos. Uma fertilidade incrível. Já soube de um cidadão (poeta?) que escreveu 30 ( pasmem!), 30 poemas em um dia!
Engraçado. Eu não consigo fazer assim. Meu processo de escrever é árduo, quase doloroso, eu diria.
Do instante da gestação até que eu considere um poema pronto para ver o mundo, muito trabalho é realizado. Eu podo, retalho, esculpo, mato verbos, aniquilo advérbios,
estrangulo pronomes sem cerimônia. E se o poema não fica como eu quero, sou capaz de deixá-lo de castigo em alguma gaveta por semanas, até que ele - faminto e desesperado - me peça para que eu o retome.
Cheguei a pensar que eu era meio descentrado. Mas descontraí quando soube que poetas de verdade, dos bons, daqueles que a gente tira o chapéu e joga nuvens de palmas quando eles passam, tinham um processo muito parecido com o meu.
Há quem diga que Drummond levava meses e até anos para considerar um poema pronto.
E eu fico feliz por saber deste fato. Porque me prova que escrever tem muito mais de transpiração do que de inspiração. O suor é tinta que se usa para tal proeza. E não estranhe você, meu vigésimo leitor, a palavra "proeza". É exatamente sobre isto que versa o ato de escrever.
Por isso, quando você encontrar um poema daqueles que espalham água no rosto, ou que levam a imaginação a ficar brilhando de tão bonito que é, aplauda o autor e o poema.
Um, o operário incansável. O outro, uma penca de sentimentos e idéias arrancadas a ferro e fogo do coração e do suor do primeiro.