Um dia na feira

Você já teve a oportunidade de ir a uma feira? Se a sua resposta for negativa, não sabe o que está perdendo, no Brasil não há uma cidade que não possua a sua feira (será que estou exagerando???), independente do tamanho, local, variedades, lá está, com as suas barracas, seus cheiros, seus gostos, suas cores, seus rostos e seus sotaques, a feira é “DEMOCRÁTICA”. É tão popular que sempre está em jornais, revistas, programas televisivos.

Só que há algumas diferenças entre esses lugares, ainda mais num país tão grande quanto o nosso, em cada região encontrará peculiaridades diferentes, no meu caso tive a oportunidade de conhecer algumas tanto em São Paulo quanto na Bahia (digo isso porque muitos ainda não tiveram essa possibilidade), e vou dizer, ao contrário daqui, lá no dia da feira a cidade pára, por isso devo ter ficado impressionado, por quê?? Vou descrever a vocês e poderão entender o motivo.

Dia de feira na cidade é um evento, digno de comparações, as ruas ficam repletas de pessoas que chegam em ônibus vindos das roças (na Bahia, saiu do centro e dos bairros mais próximos é considerado roça), famílias inteiras, todas bem arrumadas, vem em peso: é o vô, a vó, pai, mãe, e as crianças, muita criança, que além de vir para comprar as necessidades da semana, buscam a prosa, a conversa fiada, pagar as contas, cortar o cabelo, tirar foto, ir ao supermercado, namorar, e por aí vai.

A feira não se limita apenas numa rua (tradicional em Sampa), neste caso não iremos incluir os mercados municipais existentes na cidade, aqui a feira encontra-se nos bairros com horários pré-estabelecidos, com suas barracas padronizadas, pessoas mal educadas que passam com os seus carrinhos em nossos pés e ainda sim não pedem desculpas (e quando chove então), aqueles gritos com frases feitas (é necessário???) procurando chamar a atenção do público (no caso mais as mulheres), crianças pedindo dinheiro ou oferecendo serviços em troca dele, as famosas barracas de pastel exalando o seu cheiro formidável de fritura (coitado do nosso coração, mas quem resiste???), o caldo de cana, o cheiro do peixe. Tudo certinho, sem calor, frios, rápidos, apenas cliente e o feirante (claro há exceções), como robôs (não estou criticando, está enraizada na cultura).

Na Bahia já descem do ônibus cumprimentando a comadre, o compadre, os parentes que moram no centro, é uma festa, nas barracas, altas, baixas, esticadas, enrugadas, escoradas, apoiadas, amarradas (são verdadeiras artes) e quando não tem colocam a mercadoria no chão, corredores estreitos, não existem carrinhos (ainda bem!!!), as pessoas param para conversar e perguntar pela família, todos se conhecem pelos nomes, os donos das barracas cada qual com o seu apelido: Chico melancia, Valda do requeijão e manteiga de garrafa, o Zezé do tomate, o Constantino do Jabá (carne seca) e por aí vai, não tem aquela necessidade de chamar o cliente pelo grito (a qualidade chama).

A variedade de produtos impressiona (não comparemos com o Mercadão Municipal de São Paulo com sua abundância de variedades e iguarias e a sua bela arquitetura), são frutas, verduras e legumes típicos da região e da época, no lugar do pastel, a tapioca, no lugar do peixe, a carne de bode (que bem temperado é uma delícia), artesanatos, produtos do dia- a –dia: chapéu de couro, cangalha, sela, botas, cestas de palha, bolsas, em outro local, negocia vacas, bois, bodes, cabras, é necessário uma manhã para desfrutar de tudo. È uma desorganização organizada ( que paradoxo né??)

Na hora do almoço a família volta a se unir nas barracas para comer as comidas típicas, os caldos, beber o refri ou sucos, alimentos pesados e fortes que apenas eles costumados ao calor o ano inteiro consomem tranquilamente (confesso que tentei, mas não é fácil), ali juntos com outras famílias matam a fome para seguir firme (afinal ainda tem a tarde toda), passada a refeição cada um para um canto: os jovens atrás de suas paqueras e namorar, os maridos se reúnem num boteco para beber uma cachacinha com os colegas (antes que pensem e falem mal, principalmente as mulheres, que se trata de coisa de homem machista e folgado, isso já está enraizado na cultura e as mulheres aceitam “e acham até melhor”, só não pisem na bola senão ai sim a “galha” cresce), os mais velhos vão para a praça “fazer a digestão” e as mulheres vão pagar contas, ao supermercado, no cabeleireiro, comprar roupas novas, fofocar com outras mulheres.

A cidade se transforma, é o dia todo pessoas circulando, o clima de alegria paira pelo ar, todos satisfeitos de alguma maneira, o comércio pelo dinheiro que entra, a mulher por estar mais bonita depois de um trato no salão e umas roupas novas, os jovens por namorarem, os idosos pela velha conversa com os amigos, as crianças por terem brincado o dia todo e os maridos por conseguirem comprar as coisinhas para a semana com o seu suor e ver as suas mulheres mais bonitas (não veem a hora da noite chegar). E assim partem para a roça com os ônibus sacolejando pelas estradas poeirentas e esburacadas, felizes já pensando na próxima feira.

Abençoado aquele que tem o prazer de ir a uma feira, seja aonde for, para aqueles que não gostam (neste caso independe o motivo), sugiro que vá pelo menos uma vez na vida e sentirão essa sensação gostosa, difícil de explicar. Para mim a feira deveria, ou melhor, deve tornar-se “PATRIMÔNIO IMATERIAL CULTURAL DO BRASIL”.

Por falar nisso amanhã tem feira aqui no bairro...

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 21/05/2009
Reeditado em 21/05/2009
Código do texto: T1606844
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