TRABALHADORES SÃO FELINOS
Era para ter acordado as sete da matina, mas o sonho era tão conto de fadas que meu sono me levou até o calor do sol do meio dia. O bafo pior que o de uma onça, os olhos cheio de remelas, não demoro e corro para minha assepsia vespertina. Como uma carninha assada com arroz de leite e me mando para a faculdade já meio dia atrasado.
Vou pelo meio da rua e escuto um miado fino e preguiçoso de gatos. Mais adiante encontro os gatos, estavam famintos, magros e o pêlo caía assim como se estivessem ao sol por mais de meio dia. Quando passo por eles, os três me acompanham sem parada alguma, e vêm atrás de mim incansavelmente miando e grunhindo.
Só ando pelo meio da rua. Quando menos vejo, lá vem um carro em velocidade meio alta em nossa direção, me dou conta que os gatos estão logo no meu mocotó, para que os carros não os matasse, desviei para a calçada, pois sabia que eles me acompanhariam. Quando paro na calçada os três esbarram com a cara nos meus pés e começam a morder o bico meu tênis vorazmente. Percebem que não é comida, o carro passa, sigo em frente e eles não me acompanham mais. Estava tão bom os acordes de seus miados. Mas sua companhia não era diferente das dos homens. Só viam em mim um refúgio.
A gente quer o outro para nos ser refúgio. Somos refúgios para os outros.
Os gatinhos me seguiam porque tinham fome. Pensava que eu era comida. Quando deram com a cara em mim, deram com burros n’água!
É igual ao trabalhador. Sai de casa para o trabalho pensando que ganharão o pão da vida. Quando chega o fim do mês: um salário mínimo. Dão com a cara no contracheque, os burros n’água dão em sua cara.
Um salário mínimo: corre-se na busca de um sapato inglês. Quando percebem: estão mordendo o bico de um tênis.