BRINCADEIRAS DE RODA

As imagens da minha infância sempre vêm à tona trazendo-me saudades, mas uma saudade boa. Sinto alegria de poder recordar um tempo vivido de maneira simples, em que se podia brincar, jogar bola e tomar banho de açude, sem se preocupar com o dia seguinte.

Os brinquedos, quase sempre, eram confeccionados pelas crianças, usando a imaginação e a criatividade.

As bonecas e bonecos de pano eram os principais protagonistas nas brincadeiras de nós meninas. Feitas pelas mãos habilidosas das nossas mães, tias, avós ou irmãs mais velhas, tornavam-se nossos filhos. Fazíamos até casamentos entre eles. Nesta cena, eu e Iracy, contávamos com a presença de nossas duas primas: Nancy e Lucinha. O bem querer entre nós era bem maior, com relação as outras primas, devido o contacto diário que tínhamos.

A casinha era dividida com caixas de pasta de dente. Os móveis todos feitos de caixas secas de fósforos, e para colar uma nas outras era usado o grude, feito da goma de mandioca. Os assentos eram também confeccionados por nós.

Ah, e os animais? Esses eram muito interessantes. A galinha, por exemplo, era de uma frutinha do pereiro, árvore encontrada no Nordeste, que quando seca abre-se, parecendo as duas asas da galinha. Sabem como fazíamos os porquinhos e os carneiros? Ora, usávamos o maxixe e o fruto do mandacaru, que serviam para a construção dos mesmos. Para completar fazíamos as pernas de palitos de fósforos. Ainda brincávamos de jogos de pedrinhas ou com os carretéis de linha partidos ao meio As belas criações faziam parte do nosso imaginário de criança. Tudo era muito importante para nós.

Já os meninos brincavam com o carro de boi, feito de madeira com a ajuda dos mais velhos e puxado pelos bois, que eram os chifres do gado, quando abatidos. Tinha ainda o carrinho de lata, a baladeira e o cavalo de pau.

Na cidade os meninos já tinham outros tipos de brinquedos como: a coruja ou papagaio, o pião e a peteca.

Quanta simplicidade, mas de uma beleza ímpar, porque sabíamos dar valor a tudo que fazíamos com as nossas próprias mãos. Havia também o compartilhar entre as crianças, que eram quase sempre da mesma família.

Hoje, a criançada já encontra tudo pronto não desenvolvendo a criatividade. A tecnologia invadiu o universo da garotada privando-o de viver a fase mais bonita e importante para o desenvolvimento físico e o equilíbrio emocional - a infância. E por que tudo isso? Pelo simples fato de não se poder brincar, correr e viver livre, devido a própria insegurança do nosso país.

Pensemos e reflitamos nos valores reais do Ser.

Neneca Barbosa

João Pessoa, 09/09/2007