Releituras de um site literário_2_
Comentar é apenas comentar...


     O autor literário é um artista, e artista sem vaidade nasce morto. Portanto, quem escreve habitual e publicamente – seja lá o que for – o faz pelo prazer da criação literária e também pelo prazer de ser lido pelos outros. Pode até haver um ou outro autor neste Recanto das Letras que se declare absolutamente desinteressado do reconhecimento público e que declare também que escreve apenas em função de sua íntima satisfação pessoal, como se fosse um ator, um cantor ou um dançarino que se interessasse apenas em representar, cantar ou dançar para si mesmo. Fala sério...
     Eu não acredito em tamanha renúncia do ego, até porque, quem escreve para si mesmo não publica. E quem publica quer ser lido, isso é óbvio. Além disso, jamais poderá haver qualquer satisfação pessoal na criação da mensagem literária, se não sabemos como ela está sendo recebida por quem de direito - o seu receptor, ou seja, o nosso leitor. E o saberemos pelas leituras que nos fazem e principalmente pelos comentários que recebemos de cada texto postado. Não se trata de um culto à celebridade, mas simplesmente porque a vaidade, enquanto parte da natureza do ser humano, é incompatível com o anonimato.
     Há autores que simplesmente desativam, na página de Preferências, de sua Escrivaninha, as opções para receber comentários ou recados. Isso, a meu ver, não sugere necessariamente uma ausência de vaidade, pois eles continuam a publicar textos para serem lidos. Talvez façam assim por egoísmo – se não recebem comentários, não são obrigados a retribui-los – ou talvez por medo ou orgulho intelectual: comentários são opiniões e/ou avaliações públicas de uma obra e qualquer um, seja autor ou leitor assinante, seja um simples navegador da Internet, pode impunemente manifestá-las, ao sabor das suas idéias e dos seus bons ou maus instintos.
     De qualquer modo, no Recanto das Letras, como, de resto, em qualquer outro site de escritores, leituras e comentários não podem ser considerados como indicadores rigorosamente confiáveis para se avaliar devidamente a obra literária de um autor, seja isoladamente, seja no seu conjunto. Há que se considerar vários fatores como, por exemplo, o maior ou menor grau de relacionamento social do autor dentro e fora do site, a sua interação literária com os outros, a periodicidade das suas postagens, os assuntos preferidos dos seus textos e o próprio nível cultural-literário daqueles que habitualmente o leem.
     Mais ou menos leituras – números, frios, exatos - jamais causaram problemas no Recanto das Letras, mas, conteúdos de comentários, sim. Porque é nessa área – a manifestação de opiniões que agradam ou desagradam e que, algumas vezes, até mesmo extrapolam os limites do bom senso e da ética - que os egos se conflitam e explodem! Como não me passaram procuração para falar em nome dos outros autores, quero discorrer, nesta crônica, sobre os meus comentários e os meus comentaristas, pois, tanto por causa de uns como dos outros, já enfrentei situações cômicas ou desconfortáveis.
     Para início de conversa, quero deixar claro que me encaixo perfeitamente na política de convivência ética e social pacífica do site.  Jamais – mas, jamais mesmo! – deixo de retribuir ou agradecer uma visita à minha página, ou seja, a visita formalizada através de um comentário, autenticado ou não.   Mas, não aceito o que não faço: comentários ofensivos, inconvenientes ou constrangedores. Se são ofensivos, eu faço como recomenda o site: apago o comentário e bloqueio o usuário. Nesse caso, ele terá que sumir da minha página, é claro.
     Se os comentários são apenas inconvenientes ou constrangedores, nem por isso devo merecer o dissabor de mantê-los exibidos na minha página de comentários. Aliás, ninguém merece. Então, eu simplesmente apago os comentários e não retribuo as visitas. Espero que a pessoa do outro lado tenha um mínimo de bom senso para perceber que, se eu descumpri o ritual do “tu-me-visitas-eu-te-visito”, além de ter deletado o comentário, terá sido por uma boa razão pessoal. Aí ou se ofende e não volta mais, ou volta mais cuidadoso. Já aconteceu algumas vezes: afinal, estamos ou não num site de escritores, de gente supostamente inteligente? Portanto, jamais perco o meu tempo com reclamações ou bate-bocas por causa disso; se tenho essas ferramentas à mão para neutralizar tais inconveniências de conduta, para que me estressar com discussões inúteis?
     Também não reclamo se o comentário do visitante for desfavorável à minha criação textual ou se a interpretação for completamente dissonante da minha intenção ou idéia central. No primeiro caso, considerando que comentar não é sinônimo de elogiar e que somos livres para gostar ou deixar de gostar de qualquer coisa, será a minha vaidade de autor literário que ficará ofendida. Ora, a minha vaidade todos os dias ri e chora com os comentários. Por que reclamar? Mesmo com a vaidade chorando, eu, com toda a fleuma que um britânico possa ter, retribuo a visita e dou o mais elegante e cuidadoso dos comentários. No segundo caso, considerando que um texto literário é um texto aberto, sujeito a “n” interpretações, como exigir que o meu comentarista exare pontos de vista totalmente coincidentes com os meus? E procedo da mesma forma que no primeiro caso.
     Estou plenamente convencido de que a grande maioria dos autores sérios do Recanto das Letras compartilha dessa minha opinião de que apagar um comentário desde que, é claro, não seja manifestado através de termos ofensivos, inconvenientes ou constrangedores - simplesmente porque não foi favorável à nossa imagem como “bom”, “excelente”, ou “maravilhoso" autor, que achamos que merecemos desfrutar dentro do site - reclamar dele direta ou indiretamente, ou pedir que o comentarista o modifique, é uma atitude tão imprudente quanto indelicada e irritante.
     Ninguém entrou para escrever no Recanto das Letras para ganhar campeonato de popularidade. Tem gente que gosta do meu estilo, dos meus textos, tem gente que não gosta. E provavelmente nunca vai gostar. Fazer o quê? Se nem Jesus Cristo agradou a todos, como eu poderia pretender alcançar essa proeza, em plena era da Internet? Por outro lado, embora às vezes receba pauladas na minha vaidade, eu prefiro que os meus comentaristas sejam tão livres quanto imparciais na apreciação e análise dos meus textos. Não têm que me agradar ou desagradar. Têm apenas que comentar.
     E exatamente porque jamais me desvio dessa linha de conduta, é que sou completamente intolerante com essas tolas atitudes de “autor ofendido nos seus brios” quando sou atingido por elas. Para usar um termo bem maranhense, considero isso uma “aporrinhação paidégua”(1).
     Mas isso é assunto para a segunda parte.



(1) Tradução maranhês-português: chateação enorme.


Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 21/05/2009
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T1606214
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