Rua nova
Dona Verinha e a mudança. A casa era pequena, de quintal vegetariano, terra prolífica. Casinha onde sempre havia colorido. Basicamente nas janelas certa alegria puxava da paisagem o sol permanente dos dias claros. Uma casa nova é tão profunda. Dorme junto dela o sentimento de novidade, como se o antigo morador, tivesse deixado almas de proteção espalhadas pelas paredes, portas e janelas. Promete mil lareiras com a fisionomia de olhar reservado para o frio tinindo. Agora possuía a casinha para proteção contra a vida perturbadora.
Os homens traziam na carroça os poucos pertences. Estava aflita, pois demoravam uma eternidade pela estrada de saibro. Eram coisas simples, limpinhas, indispensáveis. Cada qual precisa ter seus objetos para ocupação insólita, brincou sentada no degrau da varanda. Estava na paisagem bucólica da rua novinha a mudança concretizada.
Ontem ainda se encontrava no sítio indeciso. Temendo ficar sem teto direito. Saltava-lhe a geografia exclusiva da hora como instinto de preservação naquele novo endereço. Os demais objetos chegariam num andar lesto. Certo é que possuía para distração a sombra do cinamomo, ou ainda longe, o pasto pintalgado de ovelhas com o nome de paisagem. O próprio vento caindo de-vereda, no lombo das coisas em geral, tocava a pele macia do seu rosto. Afinal, mudança em dia de vento, na paisagem bucólica, marcando o resultado da troca, era assim o precioso outono. Fora útil a nova estação para que a casa ficasse vazia entre folharadas espalhadas em todas as direções. A fatal bagunça cubista no contexto feito de fragmentos até os arvoredos.
Enquanto espiava o esforço da geladeira no duelo contra o retângulo da porta, detinha-se num ponto novo de aproveitamento da casa nova: o velho armazém onde moram desocupados que reparam na vida alheia, independente do dono. Espiar para dentro do armazém se transformaria em arte necessária. Era possível ver a esquina também no espelho oval como um filme humilde. Película da solidão sobregirando. Dentro da imagem havia um clube de olhares luminosos. Logo desconfiou algo em seu coração batendo forte. Voou entre sorrisos coruscantes até aquele olhar de dentro, único, definitivo, e cheio de luz compensadora. Ficou devoradamente suspensa no ar enquanto examinava os homens do frete descendo com precioso cuidado a árvore de natal para fora da carroça. Árvore feita de papelão.