A BARCA DOS HOMENS

Havia dois barcos à margem de um rio. Um iria para o paraíso conduzido por um anjo e tinha apenas um bobo e um cruzado (que vou tratar aqui por um simples pregador de idéias). O outro, conduzido pelo diabo, levaria os condenados ao inferno. Nesse segundo barco tinha o frade, o burguês decadente, o comerciante desonesto, o médico incompetente, o velho devasso, o juiz corrupto, os adúlteros e outros tipos sociais muito comuns naquela época. À medida que as pessoas iam subindo e perguntando para onde seriam levadas, estabeleciam um diálogo com o barqueiro que fazia o julgamento. E assim condenava todos ao inferno.

Gil Vicente faz uma sátira à sociedade do século XVI, desnudando especialmente as pessoas sem escrúpulos, gananciosas e egoístas. É o Auto da Barca do Inferno, sua mais importante obra, escrita há 500 anos.

Quinhentos anos, portanto se passaram sem que toda a modernização tecnológica, política e econômica experimentada pelo mundo tivessem sido acompanhadas pela redução dessas chagas.

Olhando num grande espelho a sociedade atual, as imagens refletidas parecem não ter se modificado muito. A nossa modernidade é restrita ao saneamento, aos brinquedos tecnológicos disponíveis para nos acelerar à frente do tempo físico. O tempo mental ainda é meio medieval.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 21/05/2009
Código do texto: T1605896