Saudades deste professor
O PROFESSOR DE PORTUGUÊS
É o professor de português. O mesmo do ano passado. O mesmo jeans o mesmo tênis, e a camisa?
_Parece nova – diz Lúcia.
Ele dá bom dia e sorri. Os dentes lindos. Pega um giz e começa a escrever na lousa. Enquanto escreve, rebola um pouco.
_Que bumbum lindo! – diz Lúcia
_É silicone, diz Dalva.
_Não, as duas são dele mesmo – diz Teresa.
_Claro, ele pagou por elas – retruco eu.
Riso geral!!! O professor olha para nós.
Outros alunos param de falar e olham também. Fico sem graça, me ajeito na cadeira, olho para frente. Começa a aula. Verbos... Analise sintática... Manchete do dia... Mais uma pá de coisas que nunca vamos usar na nossa vida. Lúcia delira, até baba, diz que adora português. Aliás, com esse professor, ela adora qualquer coisa. Ele pode falar até de enchente, choque de aviões, assassinato de criancinhas, que ela delira.
_Shiii! Está de aliança – resmunga Teresa.
_É na mão direita sua boba – acode Dalva.
_É, mas está noivo – diz Teresa desolada.
_Noivo não é casado – insiste Dalva.
_A noiva dele não é daqui, mora no Rio de Janeiro – cochicho eu – ouvi não sei quem dizer isso.
_Legal, diz Teresa mais animada.
E a aula continua. Ele fala, fala e fala... Não entendo “bulhufas”. Faço uma pergunta boba que não tem nada a ver, só para ele pensar que eu estou entendendo tudo. Ele dá uma resposta boba, embora saiba que talvez eu não esteja entendendo nada.
_Que aula chata! -Diz Paulo – prefiro inglês.
Faço uma careta, discordo dele.
_Você prefere é a professora – intromete Lúcia.
_É bem mais “boazuda” do que ele – afirma Paulo.
Riso geral!!! O professor olha intrigado: “devem estar falando de mim” - pensa ele.
Aí ele começa a chamada:
_Número um,
_Presente.
_Número dois,
Silêncio - alguém responde:
_Faltou.
Ele cansa de falar a palavra número e continua simplesmente:
_Três, quatro, cinco, seis... Vinte e três. Anota aí, exercícios.
Protesto geral!!! Mas todos escrevem a palavra “exercícios” com letra vermelha, no meio da pauta, como a professora primária ensinou.
O professor folheia um livreto, alguém começa um assunto diferente e ele cai na armadilha. O tempo passa, ele esquece os exercícios e fala do governo, fala do patrão chora a miséria que é o salário do professor nesse país. Quando o assunto está acabando eu faço outra pergunta difícil de responder. Ele responde detalhadamente. Toca o sinal, acabou a aula, graças a Deus!
_Tchau “Fessor” – digo eu.
_Tchau – Responde ele.
_Tchau _ “Fessor” – vão dizendo um a um dos alunos ao sair da sala e passar por ele. E ele responde pacientemente, cabisbaixo, bonzinho... Educadinho... Tão magrinho...
Joana Aranha
O PROFESSOR DE PORTUGUÊS
É o professor de português. O mesmo do ano passado. O mesmo jeans o mesmo tênis, e a camisa?
_Parece nova – diz Lúcia.
Ele dá bom dia e sorri. Os dentes lindos. Pega um giz e começa a escrever na lousa. Enquanto escreve, rebola um pouco.
_Que bumbum lindo! – diz Lúcia
_É silicone, diz Dalva.
_Não, as duas são dele mesmo – diz Teresa.
_Claro, ele pagou por elas – retruco eu.
Riso geral!!! O professor olha para nós.
Outros alunos param de falar e olham também. Fico sem graça, me ajeito na cadeira, olho para frente. Começa a aula. Verbos... Analise sintática... Manchete do dia... Mais uma pá de coisas que nunca vamos usar na nossa vida. Lúcia delira, até baba, diz que adora português. Aliás, com esse professor, ela adora qualquer coisa. Ele pode falar até de enchente, choque de aviões, assassinato de criancinhas, que ela delira.
_Shiii! Está de aliança – resmunga Teresa.
_É na mão direita sua boba – acode Dalva.
_É, mas está noivo – diz Teresa desolada.
_Noivo não é casado – insiste Dalva.
_A noiva dele não é daqui, mora no Rio de Janeiro – cochicho eu – ouvi não sei quem dizer isso.
_Legal, diz Teresa mais animada.
E a aula continua. Ele fala, fala e fala... Não entendo “bulhufas”. Faço uma pergunta boba que não tem nada a ver, só para ele pensar que eu estou entendendo tudo. Ele dá uma resposta boba, embora saiba que talvez eu não esteja entendendo nada.
_Que aula chata! -Diz Paulo – prefiro inglês.
Faço uma careta, discordo dele.
_Você prefere é a professora – intromete Lúcia.
_É bem mais “boazuda” do que ele – afirma Paulo.
Riso geral!!! O professor olha intrigado: “devem estar falando de mim” - pensa ele.
Aí ele começa a chamada:
_Número um,
_Presente.
_Número dois,
Silêncio - alguém responde:
_Faltou.
Ele cansa de falar a palavra número e continua simplesmente:
_Três, quatro, cinco, seis... Vinte e três. Anota aí, exercícios.
Protesto geral!!! Mas todos escrevem a palavra “exercícios” com letra vermelha, no meio da pauta, como a professora primária ensinou.
O professor folheia um livreto, alguém começa um assunto diferente e ele cai na armadilha. O tempo passa, ele esquece os exercícios e fala do governo, fala do patrão chora a miséria que é o salário do professor nesse país. Quando o assunto está acabando eu faço outra pergunta difícil de responder. Ele responde detalhadamente. Toca o sinal, acabou a aula, graças a Deus!
_Tchau “Fessor” – digo eu.
_Tchau – Responde ele.
_Tchau _ “Fessor” – vão dizendo um a um dos alunos ao sair da sala e passar por ele. E ele responde pacientemente, cabisbaixo, bonzinho... Educadinho... Tão magrinho...
Joana Aranha