A MORTE ANUNCIADA DO LIVRO
A MORTE ANUNCIADA DO LIVRO
No ano em que boa parte dos atuais brasileiros nascia um homem andava na Lua... se podemos chamar aqueles pulos de passos. Enquanto isso, centenas de quilômetros abaixo, em trechos da África, da Oceania ou Ásia, nas imensidões geladas da Rússia, Groenlândia ou Chile, outro homem produzia fogo esfregando pauzinhos ou batendo pedras.
Quase meio século depois -- em passos gigantescos para a Humanidade -- a ELETRÔNICA atinge (e predomina em) quase todos os setores e atividades das grandes metrópoles.
Mas, mesmo assim, continuamos tendo (e mantendo) técnicas e comportamento do início das eras porque, afinal, computadores não plantam batatas e vitamina de abacate ainda precisa de liquidificador para existir.
Por enquanto não se pode andar com um monitor normal de 15 polegadas sob o braço, para ler seu conteúdo fora do local original. Embora existam notebooks, palmtops e handhelds com memória para duas dúzias de robustos livros -- aparelhos cada vez menores, mais cômodos para se transportar -- as obras após lidas teriam que ser DELETADAS para darem lugar a novos títulos.
Fortuitamente, poderíamos localizar a brochura de um autor desconhecido, poeta de aldeia, escritor-de-um-livro-só, num trabalho de "formiguinha" em qualquer biblioteca comunitária de nosso bairro.
Quem sobrevive de reciclagem há de encontrá-la no saco de lixo da casa da esquina pois o brasileiro não aprendeu a DOAR o livro que não quer mais.
Simplesmente joga-o fora, entre restos de comida e pó.
Contudo, na superlotada e inviável Internet --- a não ser que se conheça algo do Autor ou do contexto da obra -- jamais será esta detectada, ficando "sepultada" irônicamente entre bilhões de outros textos também com poucas chances de serem lidos.
A biblioteca "do futuro" transformou-se numa armadilha para o Autor que, pretendendo atingir milhares (ou milhões) de leitores, acaba sem nenhum. Um pesadelo cibernético nunca sequer imaginado por seus inventores.
Ainda podemos ler, hoje, a Bíblia Sagrada que Gutemberg imprimiu há 500 anos atrás... com rasuras, rabiscos, páginas rasgadas ou deterioradas pelo Tempo, algoz e senhor da Eternidade.
Um simples risco INUTILIZA um CD-ROM inteiro com milhares de informações e, descobriu-se agora, os disquettes "apagam-se" sozinhos antes de completarem dois míseros anos de "vida".
Computadores precisam de energia elétrica, baterias, noção prévia dos comandos (e de se manter os "hackers' à distância) para que possam existir. Um livro não-virtual qualquer criança "abre", embora de "cabeça" para baixo, às vezes.
Estes os lemos deitados na rede, confortáveis em nossa cama ou -- para que o tempo passe mais rápido -- num ônibus ou trem.
A televisão veio com o intuito de substituir o Rádio, mídia "obsoleta"... já o computador ACABARIA com os livros. Por mais paradoxal que pareça, os PCs transformaram-se no maior aliado do escritor, ocupando o lugar que era da onipresente cópia xerox, "alma" do livro antigo, da "Edição do Autor" de tiragem minúscula.
Fazeres & serviços à cargo de tipografias e microeditoras são agora realizados pelo computador, em nossa sala. Programas sofisticados executam todas as etapas da edição.
Mas não se iluda o escriba que ainda rabisca seus textos e os "imprime" "catando milho" na sua vetusta Olivetti Lettera ou Remington... o Mundo será um dia tomado por essas máquinas de inteligência artificial e seremos todos meras "extensões" de seus domínios.
Todavia, entre iglus ou camelos, entre vulcões ou cangurus, haverá mais de um jovem registrando sonhos & fatos em pedaços de papel amarfanhado e que -- juntados, costurados e "colados" com maizena e arroz -- farão surgir de novo o LIVRO.
"NATO" AZEVEDO