Numa Praça Qualquer
Numa Praça Qualquer
Um dia sentada na escadaria da praça, reparei que havia um garoto de aproximadamente 12 anos. Um menino lindo de cabelos encaracolados. Podia ver em seu rosto a satisfação de estar ali. Calmo, sereno, alegre e feliz. Passava todas as tardes naquela mesma praça junto com seu amigo. De longe eu os observava brincarem. Como eram amigos e que amizade incondicional. Soltavam pipas juntos, desciam as rampas da igreja deslizando pelo cimento, colhiam as flores pelo caminho e entregavam a uma senhora que sempre os acompanhava. Era um ritual de beleza, faziam diariamente este mesmo percurso na ânsia de aproveitarem o dia.
Por horas, fiquei ali, inerte, sem balbuciar nenhuma palavra, apenas ver a mais pura expressão de amor. Não demorou muito e ouvi o mais velho pronunciar o nome do amigo. Era Lucas o menino de olhos de amêndoas. Seu sorriso se abria cada vez que o amigo corria com ele. Parecia que ele estava voando por entre as nuvens. Eu nunca tinha visto um sorriso tão lindo como aquele.
Henrique, este era o nome do outro menino. Doava-se por inteiro àquela amizade. Não demonstrava nenhum sinal de vergonha ou obrigação de brincar com seu amigo. Era leal e verdadeiro. Quando percebia que ele sorria, doava-se mais nas brincadeiras. Por vezes a senhora ali sentada advertia-os para terem cuidado, pois havia buracos na calçada. Mas, eles não se importavam e continuavam a correr com suas pipas.
Era um emaranhando de emoções, eu podia sentir a pulsação dos seus corações diante de mim e sentir o cheiro de suor de seus corpos. Que imagem linda, gravei-a dentro do meu coração. Olhava as folhas caindo das árvores, era início do outono e eles brincando sobre elas.
Você deve está pensando, o que tem haver dois meninos brincando na praça? Vejo isto todos os dias. Sim, caros amigos, eu também vejo amigos brincando nas praças, ruas, calçadas e em todos s lugares onde a imaginação alcança. Mas, estes amigos eram diferentes. Sua emoções eram únicas, nunca vistas por ninguém. Suas pipas, as mais lindas. Ah! E o sorriso daquela senhora recebendo flores! Que belo sorriso! Única em toda a sua formosura.
Quando voltei à consciência, já passara-se cinco horas, e eu ainda estava li a contemplar aquela cena. Meu Deus, pensei, não se cansam, ainda teem disposição para mais uma corrida. Não sei se nesta vida, que hoje teimo em viver, vou ver cena tão igual, mas o que sei, que dela tirei uma lição para toda a minha vida. Dois amigos, eternos amigos, juntos e felizes. Não se importavam com quem os olhavam e muito menos com a cadeira de rodas que os acompanhava. Estava ali para aproveitarem a vida, serem felizes. E nós estamos reclamando do quê? Entendem agora, por que foi a maior experiência da minha vida?
“Preciso de homens que possa sonhar com coisas que nunca foram feitas”
John Keneedy