MARCAS DA GUERRA

O Estado em que moro faz divisa com o Paraguai. Daí muitos paraguaios virem morar no Brasil e brasileiros irem morar no Paraguai. Aqui em minha cidade há muitos paraguaios. Divirto-me ouvindo-os falar em guarani, e, assim, confundir nossas idéias e pensamentos. Ás vezes, nesses momentos, fica a impressão de que estão gozando com a nossa cara.

Ao vir para o Brasil o paraguaio trouxe a chipa, a polca e o tereré, que acabaram se incorporando aos hábitos dos sul-mato-grossenses e viraram tradição. É comum nos dias de calor a gente ver as rodinhas de tereré espalhadas pela cidade. O compositor Paulo de Tarso, filho daqui, retrata isso em “Roda de Tereré”, gravada pelo Grupo Zíngaro.

Nessa relação de amizade entre os dois paises, os brasileiros cruzam a fronteira, em Ponta Porã, e vão comprar produtos eletrônicos em Pedro Juan Caballero. O contrário é feito pelos artistas paraguaios, que gostam de vir tocar em Campo Grande. Ali, já assisti shows da Perla e do grupo Los Celestiales.

Aprendi, no contato direto com os amigos paraguaios, a não falar sobre a guerra do paraguai. O assunto ainda dói, machuca-os. E não é para menos, quase toda a população masculina paraguaia morreu na famosa guerra e o país praticamente ainda não conseguiu se refazer, sendo uma das economias mais pobres do Continente. Quem ler “Genocídio Americano”, “A Retirada da Laguna” e “Guerra entre irmãos”, vai entender por que os paraguaios não falam sobre a guerra.

Os pais de um cunhado meu, que mora em Campo Grande, agem dessa forma. Eles tiveram parentes mortos na guerra e ficaram traumatizados. Por causa disso, não vestem nenhum tipo de roupa vermelha, já que essa cor lembra o sangue dos irmãos derramado nos campos de batalha. A gente aprende a respeitar o sofrimento alheio, e, muitas vezes, a dividi-lo.

Torço para que o Paraguai resgate sua auto-estima e se transforme num país forte e importante no contexto da América Latina e Mercosul, tanto quanto o Brasil, para que, nessa relação de irmandade, a gente possa se completar.