Última Chance ( Um Repente em Prosa)
Ainda lembro do meu primeiro beijo, do coração partindo e da despedida que ainda me trás lágrimas aos olhos, por isso quem não é romântico, quem nunca teve um primeiro alguém, não siga adiante, essa estória é para quem tem ou já teve coração sangrando por amor.
Era a última chance de falar com Eliane. Quatro anos se passaram e passou também a coragem de declarar o meu amor; de lhe mostrar minhas poesias, minhas canções e minhas declarações.
O que pensaria Eliane de mim? Jamais saberia, pois a última chance que eu tinha fugiu ao som do último sino que escutei naquela escola. Dali a dois dias, eu deixaria Cajazeiras para sempre para morar com meus parentes em algum lugar além de Brasília.
Fui covarde, confesso! Não quis ser rejeitado, não quis ouvir não, mas ó destino ingrato, partiu meu coração novamente, quando justamente eu já aceitava que não existia nada além do não.
Dois dias depois, quando eu estava já dentro do ônibus para ir embora da cidade, em meio a amigos, conhecidos, estranhos e familiares, notei o par de olhos brilhantes que tanto amava, gritando meu nome e eu achando que ela buscava um outro Francisco, mas ela procurava mesmo esse Chico; e disse que sempre quis se aproximar, mas esperava que eu desse o primeiro passo – como é que eu poderia fazer isso, se meus joelhos tremiam? Mas ela dizia que quem tinha medo era ela de eu não dizer sim e ficamos os dois, um olhando para o outro, bem pertinho, quase juntinho, com o silêncio convidando o próximo ato que não envolve palavras, mas tem tudo a ver com a boca; mas o povo foi entrando, o motorista se sentando, São Paulo me chamando e Eliane me olhando e dizendo com o olhar – Não vai não!
Foi quando eu disse ao motorista: “Seu Dirijidor, espera! Essa é a mulher da minha vida, dai-me três minutos para eu me despedir do meu amor”.
E na rodoviária de Cajazeiras nunca se viu despedida igual, um garoto pretinho beijando uma menina branquinha num café com leite juvenil amoroso.
Para tornar tudo ainda mais doce, Roberto Carlos cantava “Amor Perfeito” no autofalante, os outros passageiros e seus parentes aplaudiam, o motorista enxugava os olhos com um lenço, as moças pensando em casamento, os moços em suas amadas, os anjos abençoando, Deus do céu graças enviando e um coral de jumentos relichando a maior cena musical desse meu conto de amor matinê.
E é assim que termina a minha última lembrança de Eliane, como numa canção brega, como uma visão de uma imaginação fértil de um quase adulto, de um adulto ainda meio criança.