NOTA: PRESENTE DE GREGO ("Presente de Grego você ganha sempre de um aproveitador, Hoje você ganha e depois você paga por ele!!!" — Marcos Dantas)

Era uma manhã comum de segunda-feira, mas eu ainda não sabia que aquele dia guardaria aprendizados valiosos. O aroma do café fresco se misturava ao cheiro de giz e livros, criando uma atmosfera familiar na sala dos professores. Enquanto ajeitava meus óculos, observava o movimento dos colegas, todos prontos para enfrentar mais um dia no campo de batalha da educação.

Ah, se as paredes daquela escola pudessem falar! Quantas histórias contariam sobre nós, professores, e nossos eternos aprendizes. A lembrança de um colega de História ecoava em minha mente: “Aluno só quer boa nota!” Era uma frase simples, mas que se tornou um mantra em minha jornada educacional, especialmente ao observar as complexas teias de amizade e interesse que se entrelaçam entre os alunos.

Certa vez, uma aluna à beira da reprovação decidiu que a vingança era a melhor resposta. Sua trama envolvia mentiras e desentendimentos que mancharam minha reputação, até seu marido veio confrontar-me, como se eu fosse o verdadeiro vilão da história. Senti como se estivesse em uma peça de teatro onde o script foi escrito por alguém que não compreendia o valor do esforço e da dedicação. Se ela tivesse canalizado aquela energia em estudar, o enredo teria sido bem diferente.

Conforme caminhava pelos corredores, os ecos das vozes me atingiam como facadas: “Lá vem esse velho caduco de novo!” ou “Ah, não! Professor chato!” O que mais me feriu não foram as palavras, mas a expressão de desprezo que as acompanhava. Às vezes, sentia-me preso em um poço escuro, com uma abertura minúscula por onde entrava um raio de luz: a esperança de que a aposentadoria me trouxesse alívio. Mas a vida, com suas ironias, sempre estava à espreita.

Lembro-me da vez em que nosso colégio foi incendiado por alunos descontentes. Os diários de classe, cheios de histórias e memórias, tornaram-se cinzas. Naquele caos, fui orientado a dar notas baseadas na “consciência” dos alunos. Curiosamente, aqueles que me atacavam se tornaram amáveis, buscando a aprovação que parecia poder substituí-las relações autênticas que eu sempre quis cultivar. Oferecer notas em troca de amizade? Um crime que eu me negava a cometer.

Hoje, embora o peso da idade sobre meu corpo se faça sentir, minha mente ainda clama por verdadeiras conexões. O que mais anseio é a companhia de jovens que compartilhem a esperança de um crescimento cultural genuíno. Porém, ao olhar para meus alunos, percebo que muitos deles ameaçam o professor e desafiam o sistema, lutando por notas que não refletem seu verdadeiro esforço. A preocupação com o aprendizado se perdeu, e a passagem de série tornou-se uma mera formalidade, um rótulo sem significado.

E se os alunos são, de certo modo, espelhos do mundo exterior, percebo que são amigos momentâneos, que compartilham o café que nunca contribuíram para comprar, enquanto tramam contra os que se negam a dar notas generosas. Essa realidade, tão cruel quanto triste, leva-me a refletir sobre a verdadeira natureza das relações.

Como um velho professor, carrego as cicatrizes e lições que o tempo me trouxe. Aprendi que, no tumulto da sala de aula, o verdadeiro valor da amizade não reside nas notas ou nas aparências, mas na sinceridade dos laços que se formam. Mesmo que as palavras de encorajamento sejam escassas, continuo acreditando que a educação é uma luz que, embora distante, um dia brilhará intensamente na vida de cada um.

Assim, seguimos em frente, cultivando a esperança de que a amizade se transforme em um elo verdadeiro, onde cada um possa encontrar seu espaço e significado no mundo. Porque, no final das contas, não estamos apenas ensinando matérias; estamos ensinando a viver. E você, caro leitor, o que aprendeu hoje que vai além das páginas dos livros?

Com base no texto apresentado, proponho as seguintes questões para uma discussão em sala de aula, explorando os temas da educação, das relações interpessoais e da experiência docente:

O texto apresenta um retrato crítico da educação. Quais os principais desafios enfrentados pelo professor na sala de aula, segundo o relato?

A relação entre professor e aluno é central no texto. Como a falta de reconhecimento e respeito por parte dos alunos afeta o trabalho docente?

O autor menciona a busca por uma educação que vá além da mera transmissão de conhecimento. Qual o papel do professor na formação integral do aluno?

O texto aborda a questão da avaliação e da motivação dos alunos. Como a busca por notas altas pode prejudicar o processo de aprendizado?

O autor reflete sobre a importância da amizade e das relações interpessoais na escola. De que forma essas relações podem influenciar o ambiente de aprendizagem?