Um bom sono conturbado
Estou feliz por não estar com saudade de mim, já tive bastante, meu peito apertava sempre e queria rebubinar a vida pra viver um pouco mais e diferente a criança que fui. Tudo bem, não tem jeito e não quero no momento, porque tudo que vivi tornou-me eu hoje e o eu de hoje não tem saudade daquilo. Minha infância não foi das mais movimentadas, mas não foi ruim. É certo que tenho vontade de ser criança de novo, mas não de voltar ao tempo e mudar alguma coisa. Vai que da mudança eu não me tornaria o eu de hoje. Apesar de não sentir orgulho do que vou falar, hoje estou orgulhoso de mim (será que sinto orgulho de falar isso?).
Há uma certa satisfação em ser quem eu sou. Deveria eu então, dormir em paz, tranqüilo, como uma pedra, no entanto não consigo, alguma coisa pode estar me aporrinhando o subconsciente, mas como não vou descobrir tão cedo e provavelmente tão tarde, prefiro pensar que as más noites de sono são coisas biológicas. Ou quem sabe, naturais de alguém em constante mutação, deixa pra lá...
Pra não ter saudade de quem agente foi, exige um grande esforço e creio, cheio de receios, que de uma boa sorte. Meus dias são exaustivos, mas não cansativos e, há uma diferença. No primeiro caso se faz muito do que gosta, no segundo muito do que precisa. Eu gosto de poesia e preciso trabalhar, ta explicado. Meus amigos são bastante, mas não muitos, há uma distinção aí: bastantes bastam e asseguram, muitos, excedem e preocupam.
Citei o esforço e a sorte, a naturalidade, a biocondição, a consciência, o orgulho, a satisfação, a infância, o hoje, a saudade, a felicidade e outras palavras-chave que pode-se entender como parte do grupo, agora acho que já posso ir dormir, nem que seja um bom sono conturbado.