O PSEUDO- MARIDO

O PSEUDO-MARIDO

Resolvi este ano dar-me um presente, ou melhor, um presentão: passar minhas merecidas férias num hotel cinco estrelas. Mal sabia eu que iria divertir-me com fatos tão interessantes.

Ao chegar, meus olhos embeveceram-se com a beleza do hotel. Um luxo! E como eram educados os seus funcionários! Logo apresentei-me à recepção. Uma funcionária de porte esbelto atendeu-me e prontamente confirmou minha reserva. Passados uns dez minutos, chega um casal apresentando-se também para a temporada. Um belo casal (parecia serem feitos um para o outro). Ela, loira e simpática. Ele também louro, parecendo um alemão. Carinhosamente a chamava de Lili. As malas eram muitas, mas o homem fazia questão de não deixá-la pegar peso. Seu gesto, todavia, não escondia uma certa insegurança. Surpreendi-o várias vezes olhando tudo ao redor com olhar desconfiado. Pensei comigo mesma: "Seria, por acaso, a primeira vez que se hospedavam num Cinco Estrelas? Vai ver fizeram muito sacrifício para tal extravagância, e, quem sabe, o momento não seria o melhor para aquele prazer. Mas na certa estavam merecendo uma segunda lua-de-mel."

A jovem mulher perguntava pelo apartamento reservado, e as chaves lhe foram entregues. Um detalhe importante do qual ela fazia questão: três camas de solteiro bem separadas. A funcionária da recepção olhou-a e não entendeu nada. Mas deve ter pensado: "Vai ver têm mania de americanos ...mas será que casal americano dorme mesmo em camas separadas? e a terceira cama para quem seria?...não estavam acompanhados de criança...".

Eu a tudo assistia e imaginava: "Que maneira diferente de fazer lua-de-mel!".

Logo na manhã seguinte, o casal 20 apareceu na piscina do hotel, tentando pegar aquela "cor dos cariocas". Bebiam sucos tropicais, conversavam muito e chegaram acompanhar as músicas que vinham de um som ao lado da piscina. Eram músicas românticas, e eu pensava comigo mesmo: "É ... o amor é lindo!"

Conforme os dias foram-se passando, o casal se entrosava com os outros hóspedes. Ele sempre bem mais reservado. Ela, sempre muito alegre, chegando até a participar de dança de salão na boite do hotel. E como dançava! Não com ele, mas com os outros. Era uma alegria só.

Duas irmãs, hóspedes também do hotel, provenientes talvez lá das Minas Gerais (ou sei lá de onde), passaram a ficar de orelha em pé para descobrir a bondade daquele marido tão cordato que deixava sua mulher divertir-se à vontade. E, assim, começaram as irmãs a tricotar, não se preocupando com as pessoas à volta:

- Olha aquele cara que parece um alemão ... está só; e tem gatinha, muita gatinha em cima dele!

- Eu, heim! estes estrangeiros têm cada uma! a mulher dança de um lado, ele beberica com outra!

- Não faz mal, a gente chega lá e descobre.

Uma das irmãs, mais indiscreta que a outra, aproxima-se da jovem e encantadora senhora e dá uma de mãe conselheira:

- Filha, não deixe seu marido à solta. É perigoso ... demonstre mais carinho para com ele, em vez de ficar dançando por aí.

A loura riu e acalmou a senhora, dizendo não ser aquele moço seu marido, apenas um colega de trabalho, e vieram passar as férias juntos. A velhota não acreditou naquela história, e correu para contar a novidade à irmã:

- Imagina, Ismênia! o casal 20 não é marido e mulher; são coleguinhas de trabalho! Coleguinhas de trabalho, pois sim! e dormindo juntos naquela suíte. Eu é que não acredito nisso!

- Nem eu!

Embaixo da varanda da suíte do casal, ficavam as duas a tomar conta de tudo e de todos. Dois dias se passaram. As velhotas sempre procurando descobrir coisas. E descobriram mesmo.

Numa bela noite, ao olharem para cima, viram uma segunda mulher na varanda. Esta era uma morena mignon que falava um pouco alto e abraçava o alemão com muita alegria.

Ismênia não se conteve:

- Puxa vida! isto é demais! vai ver que é um sheik com duas mulheres!

- E na Alemanha tem sheik?

- E quem disse que ele é alemão?

- Vamos parar de bisbilhotar a vida alheia e cuidar da nossa.

Uma certa tarde, quando já escurecia, esbarrei com uma das senhoras fofoqueiras. Fomos conversando até o restaurante do hotel. Ela não se conteve e me contou sobre o misterioso casal. Fingi que não entendi e fiquei na minha.

Os dias iam-se passando, e até eu me fizera amiga do alemão. Era um bom papo. Falávamos sobre a situação do Brasil e sua nova política. Ele, como estatístico, gostava muito de comentar sobre números, população, índice de desenvolvimento humano, etc.etc.

A temporada já estava quase chegando ao final, quando surpreendi as duas velhotas brigando:

- Não acho certo o que você fez.

- E o que fiz?

- Ora, ora. Deixou-nos em maus lençóis. Você não devia ter falado nada.

Ao descer as escadas que davam para o hall do hotel, encontrei a loura e a moreninha mignon. Riam muito e vieram falar-me sobre a preocupação das senhoras em relação ao trio que ocupava aquela suíte. Na verdade eram todos primos. Trabalhavam juntos há muito tempo e estavam ali para espairecer e gozar férias atrasadas.

Pude entender, então, o motivo do casal ter reservado uma suíte com três camas de solteiro.

No último domingo do mês, o hotel programou um passeio a um belo parque. Alguns hóspedes toparam, inclusive eu. O trio de amigos aproveitou a condução e pegou uma carona até o centro.

Assim que saltaram, uma hóspede comentou:

- O marido daquela senhora é um cara legal.

Expliquei-lhe que não eram marido e mulher. Eram apenas colegas de trabalho e amigos de velha data.

UM outro passageiro mais atrás jurava que o alemão era marido da moreninha, porque os via sempre juntos nas caminhadas matinais do hotel.

Mais surpresa fiquei, quando uma jovem sentada ao meu lado me disse que pensava ser o alemão meu marido, por ter-me visto várias vezes levando um papo alegre com ele.

Pensei, pensei ... "o alemão não era meu, nem seu, nem vosso marido. Era apenas um homem inteligente e bonito que chamara a atenção das mulheres. Estas, sim, com certeza haveriam de gostar de tê-lo como marido".

(Vilma Tavares

Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 20/05/2009
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