Que artifício é este?
Não entendo tamanho repúdio dispensado a um artifício tão paliativo, que evita dores irreparáveis, adia desavenças, abrevia tormentos.
Que mantém o crédulo e o tolo na inocência e no ridículo que os satisfaz.
Que deixa durar, ainda que por tempo definido, o sorriso grotesco na boca do iludido.
Que permite palpitar com força, mesmo quando no "inverno" da vida,
o coração da pobre cega, que, se recusa-se a ver, não abdica do direito de ouvir. E "crer!"
Esse artifício, tão difamado e algo desprezado, vem livrando da condenação os tipos humanos mais "verdadeiros" e também vem enriquecendo, vários bolsos alheios.
O mesmo artifício é usado para colocar nos altares, os grandes padres e pastores políticos e engrossar as fileiras dos desvalidos aflitos, que deixam para trás pecados enfadonhos e seguem felizes e sorridentes. Meu Deus, pra onde?!
Esse artifício, nas noites silentes, de fracos viventes, deixa na boca de um coitado, além do gosto da aguardente, o doce e enganoso sabor da paixão fremente.
Esse artifício é tão poderoso, tão democrático e eficiente, que já selou grandes destinos, cerrou inúmeros caixões e determinou muitos rumos na história.
Que artifício é esse!?
Isso, finja que não sabe.
Dê-me o prazer de dizer que seu nome rima com ira.
Deixe que eu, sentindo-me superior e incontestável, lhe conte.
Esse artifício é a MENTIRA!