Que artifício é este?

Não entendo tamanho repúdio dispensado a um artifício tão paliativo, que evita dores irreparáveis, adia desavenças, abrevia tormentos.

Que mantém o crédulo e o tolo na inocência e no ridículo que os satisfaz.

Que deixa durar, ainda que por tempo definido, o sorriso grotesco na boca do iludido.

Que permite palpitar com força, mesmo quando no "inverno" da vida,

o coração da pobre cega, que, se recusa-se a ver, não abdica do direito de ouvir. E "crer!"

Esse artifício, tão difamado e algo desprezado, vem livrando da condenação os tipos humanos mais "verdadeiros" e também vem enriquecendo, vários bolsos alheios.

O mesmo artifício é usado para colocar nos altares, os grandes padres e pastores políticos e engrossar as fileiras dos desvalidos aflitos, que deixam para trás pecados enfadonhos e seguem felizes e sorridentes. Meu Deus, pra onde?!

Esse artifício, nas noites silentes, de fracos viventes, deixa na boca de um coitado, além do gosto da aguardente, o doce e enganoso sabor da paixão fremente.

Esse artifício é tão poderoso, tão democrático e eficiente, que já selou grandes destinos, cerrou inúmeros caixões e determinou muitos rumos na história.

Que artifício é esse!?

Isso, finja que não sabe.

Dê-me o prazer de dizer que seu nome rima com ira.

Deixe que eu, sentindo-me superior e incontestável, lhe conte.

Esse artifício é a MENTIRA!

Isabel Damasceno
Enviado por Isabel Damasceno em 19/05/2009
Reeditado em 08/06/2011
Código do texto: T1603622
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