O Mendigo e os Idiotas da Cidade Grande.

É impressionante a quantidade de situações que vemos pela janela dos tantos ônibus que pegamos todos os dias. Numa quarta feira de uma semana qualquer, eu, assim como tantos outros brasileiros estava atrasado, tinha uma consulta médica e logo após meu curso de capacitação. Fortaleza como sempre está com o trânsito caótico, com seus prédios enormes que não deixam o vento circular, as businas soam sem pena dos meus ouvidos, e eu, dentro de um ônibus lotado e quente. Aquele corre-corre típico de cidade grande estava me estressando nesse dia, embora seja bem habituado a ele. Em um momento despercebido da vida, foco minha atenção em uma imagem no mínimo, surreal. Em plena 11 horas da manhã, tem um mendigo, deitado na calçada da Santos Dumont, ao seu lado tem um guardanapo com uma coxinha de frango em cima e ele está bem despreocupado lendo a VEJA dessa semana. Minha primeira reação foi rir e depois me bateu um momento de desespero que me levou para o meu período de reflexão. Sabe aqueles instantes que dura um sinal vermelho inteiro? Pois bem, esse estava sendo o meu. Penso que enquanto a cidade quase toda se descabelava com um transito caótico, atrasos constantes e tantas obrigações para fazer, aquele homem simplesmente relaxa e se informa. Estava lendo sobre política, religião ou sabe lá o quê. Ai me veio outro pensamento, porque ele iria se preocupar? Ele estava debaixo de uma árvore, na sombra, ao lado já tava com o almoço garantido (a coxinha, lembram?), ele estava era mais que certo. Os idiotas éramos nós que nos entupimos de obrigações que não dão pra ser feitas nem em 30 horas, imagina em 24. Besta somos nós que nos preocupamos demais com o relógio que sempre nos atrasa e nos estressa. Quanto tempo eu não sento debaixo de uma árvore, ou leio uma revista com calma? Devo admitir que me bateu uma certa inveja daquele cara. Me senti meio idiota, pois eu queria estar lendo uma revista, bem despreocupado, sentindo um vento no rosto, sem me preocupar com as businas ensurdecedoras das grandes cidades. Mas não, estou em um busão lotado, num dia quente e pra variar atrasado. Ah, mas o momento de reflexão tinha que acabar, pois o sinal vermelho já estava verde e eu tinha que descer já na próxima parada e implorar que o médico me atenda.