Élito – um evangélico meio complicado...

Élito – um evangélico meio complicado...

(Goiânia, GYN, peixe assado, amigo, bebida, abstinência, álcool, ligeirinho)

Quando morava no interior, da turma de amigos que gostava de tardes ou madrugadas de violão, bebida e, cantoria era o Éliton, um dos 8 irmãos, filho de Zequinha, o baiano.

Quando a gente se juntava pra tocar alguma coisa, Élito não cantava nada, mas pegava o atabaque, para fazer a percussão e, ele mandava bem. Na bebida, era forte. Quando Santo pegava show pra fazer nas cidades vizinhas, levava Éliton pra fazer a percussão - pandeiro, no qual o pai também era craque - e tumbadeira.

Era um cara fácil no trato e, que se enturmava rapidão com todo mundo.

Certa vez, fomos eu e Santo, num fusca do motor fundido e dos pneus tipo Marcelo Tass, para acampar numa pria do rio Araguaia, em Aruanã. Depois de 12 horas de viagem (cobrindo 250 quilômetros), com constantes paradas para consertar um pneu furado ou ajeitar alguma coisa no fuscão talhado, chegamos à margem do rio nacional dos goianos e, tratamos de procurar o danado do Éliton, que tinha ido na frente, com um outro companheiro nosso.

Subimos de canoa até a praia do Cavalo e, logo, encontramos o cara totalmente integrado com a turma do acampamento do sindicato dos bancários, participando da aeróbica, recebendo recados pelo alto-falante e, arranchado ao lado de um grande empresário de Goiânia, que não o deixava gastar com nada - nada!, só para ter a satisfação de tê-lo ao lado, aprontando as presepadas de sempre, brincando com todo mundo e, fazendo companhia a ele, diante dos olhos tristonhos da esposa (mas, essa história merecia uma crônica própria, porque os detalhes são pra lá de cômicos...).

(quando o tal empresário se mandou, deixou o rancho pra nós, com cozinha, fogueira e, um razoável estoque de brejas, em agradecimento pela companhia do solícito e divertido amigo).

Ele ficou na Terrinha até os vinte e poucos anos e, depois se mandou para Goiânia, em busca de melhoria na vida. Aqui, assim, como os outros irmãos, acabou se ajeitando na vida no ramo de produtos gráficos.

Alguns anos atrás, invoquei com esse negócio de emagrecer e fazer caminhada, pra controlar o peso e, estabeleci um percurso mais ou menos circular que passava por diversos bairros vizinhos. Passando por bairro vizinho ao meu, quem eu encontro cruzando uma avenida, num carro? Ele, que também me viu, parou o carro e, veio me cumprimentar efusivo. Me deu o endereço de sua casa, solicitando que eu o visitasse.

Dias depois, saindo de uma pizzaria, encontrei Élito e a esposa na calçada e, ele me informou que ambos tinham virado evangélicos e, estavam saindo da Igreja. Aí convidei os dois para irem a minha casa, para comer um tambaqui que trouxe da Terrinha assado. Aceitaram na hora!

No dia, tudo preparado, eles apareceram no horário. Informado do novo status religioso do casal, só comprei refrigerantes, em respeito a eles.

Notei que o Wellington agora era um sujeito mais caladão, quase sem graça - nele não se encontrava nada do mulato faceiro e brincalhão, após algum incetivo etílico.

Nos despedimos e, ele disse que faria um jantar em casa e, que mandaria o convite. Porém... tal convite nunca veio! Fiquei pensando no que eu havia feito para, talvez, contrariar a ele ou ao casal.

Mas, uma surpresa esclarecedora estava por vir. Certo dia, passei num clube a caminho de casa convocado por Marquinhos, irmão de Wellington. Era coisa séria, costela cozida e, cerveja gelada. Fui.

Cheguei lá e fiquei satisfeito em encontrar um monte de colegas e conhecidos da Terrinha. Margo (que grande humorista Goiás está perdendo! Tem umas histórias dele, que são bem interessantes...) sentou ao meu lado e, a certa altura do campeonato de copo, me contou que, um dia ligou para Élito, pois queria ir a minha casa, me visitar, bater papo e tal. Foi quando o irmão lhe disse: "É friiiiiiia, Marguim! Nossa senhooora - na casa do Se-Gyn só roda refrigerante. É fria. Ó deixa, deixa, Vai, não!..."

Eu não tava entendendo nada. E perguntei: "Ué, mas o Élito não virou evangélico?"

E o Margos, retrucou: "Virou sim, mas não largou da pinga, não. Ele bebe fora de casa - ou, dentro de casa, amoitado da mulher! Ele vive arranjando desculpa para sair e ir tomar umas calcinadas nos botecos da vizinhança. Se a mulher manda ele comprar coisas pra casa, dá umas três viagens..."

Pensem!...

Margos certamente telegrafou a coisa para o irmão, pois, dias atrás, depois de muitos anos, encontrei Élito na rua - que, não demorou em me falar numa peixada em sua casa, com a presença do outro, é claro.

Mas, fiquei com vontade de perguntar se ele ainda frequentava, ligeirinho, os botecos da região...