ESTÓRIA DE NATAL
Eu fico exposto a tudo e a todos, todo dia, toda hora sinto reações diversas percorrendo o meu corpo de alegrias a tristezas da calmaria a tempestades como num navio singrando mares, assim rola o dia, mas um mar delas me invadiu no dia vinte e cinco de dezembro, olhei reto, a minha direita e esquerda para ter certeza do que estava vendo, e comentei com a minha companheira, já sentindo calafrio...
— É impressão minha ou esta laje esta inclinadissima para a esquerda.
Era natal e fui transportado por mãos responsáveis até o primeiro andar, o que não me impediu de sentir um frio, a correr espinha abaixo ate a hora que fiquei, confortável e em segurança, mas logo após mais uma sensação percorria os meus neurônios, a do medo, quando ouvi:
— Quando fizeram a laje não reforçaram os alicerces e toda a casa inclinou, me disseram.
Um pavor tentou tomar conta de meus sentidos, e mesmo não entendendo nada de estruturas de concretos, me vi observando todo o detalhe do piso atrás de fissuras, não queria ser pego de cadeira de rodas por um desmoronamento.
— Não se preocupe, disseram-me.
Ouvi e fui invadido por uma sensação de relaxamento, mas mesmo assim parei para observar a casa, e com certeza toda a construção foi feita por pedreiros inimigos do esquadro, nível e sofrendo de labirintite, pois nada se encaixava e devia ser por isso que havia degraus para todo lado, o que me aguçava a atenção, pois havia ate uma porta no nível do piso, mas após o primeiro degrau de uma escada que dava para o térreo, e quando a fechavam deixava um buraco à espera de incautos ou de uma roda traseira, mas fiquei atento e ele não conseguiu me pegar, o pior era que o primeiro degrau avançava sobre o segundo reduzindo a sua área de apoio, jogando fora o equilíbrio simétrico necessário para quem descesse, ter segurança.
A surdez deveria ser outro requisito básico para a empreita, pois toda vez que se gritava:
— Esta torta!
Não escutavam, e paredes foram edificadas, estruturas erguidas e ainda bem que todas as más sensações foram suplantadas pela musica e comida farta a varar a madrugada natalina.
E no final outros capengas, vesgos, gagos e dessa vez não por alguma negligencia métrica ou debilidade física, mas sim por optarem sorverem em faustos goles a bebida alcoólica a farta sobre as mesas, esses viram a festa e se perderam entre as emoções e só se acharam em garrafas.
Preferi estar de cara na situação, situações ricas me abordaram em sensações, e se as perdesse com certeza não as encontraria e mesmo se a festa findasse em escombros, eu ficaria longe até mesmo da poeira a comemorar o meu natal e na realidade fui traído pelo aspecto, mesmo os que terminaram dentro de garrafas e aquela laje eram sólidos, não desmoronaram e ficamos juntos na virada do ano, sem derramar sobre a agenda o tinteiro no primeiro dia do ano.
DiMiTRi
11/1/2006 19:34