Entra a Cor do Mar
Porque as viagens nos transportam aos pontos mais distantes e não habitados de nós mesmos, trazendo a luz algo de bom.
Essas são lembranças da vigem a Santa Catarina, quase 15 horas rumando ao Sul numa caixa metálica. Passa prediozinho, passa predirão, passa ponte, praça, favela, viela, construção. Paisagem vira mato, vira montanha, vira vaca, vira fábrica, mas Santa Catarina não vira. Não chega. Chega parada de noite e de madrugada, e Santa Catarina só idealização.
A poltrona já odiada, tem formato de bunda quadrada, desconforto em série e tortura por quilometro metricamente rodado no trânsito parado. Atrasando as horas, matando os planos e quebrando os ossos já desconjuntados.
Como prêmio a campeão de fim de jornada, se oferece na chegada, boas pernadas esticadas, sol matinal e quinze minutos de estrada de poeira. Segue-se virando a curva da espectativa, ao encontrar abraços da beleza em natura. A alma se renova. Rejuvenesce se apura. É tudo tão belo, é tudo tão perfeito. Porque Deus fez a natureza direito, desenhando o rascunho do paraíso no horizonte do mar, nas curvas das montanhas, entre os pássaros a voar por entre ângulos das rochas. Tudo encanta na Praia do Rosa.
Vim de longe trazer pra perto minha alma distante da linha da terra. Ligada agora pelos pés no chão, pelo sal do mar na pele, por teias de aranhas em trilhas e orquídeas selvagens de colorido. De mim escorre todo sol da cidade esfriecido, absorvido pela cinzedade dos dias. Se esvai toda correria, e todos os passos apressados dados entre multidão. Da lugar a cor do mar, banhada em sol, fundida ao grão de areia perdido entre os dedos da minha mão. Entra pra me colorir, pra vivaz aquecer, vivecer a vida em mim. Transceder essa luz; despertar.