Repressão católica
A respeito do recente episódio da proibição que o Arcebispo da Paraíba impôs ao padre Luiz Couto de oficiar missas por causa de suas atividades políticas, remeto a uma carta aberta que escrevi em abril de 1997, na cidade de Mari:
“Boa parte dos bispos católicos que recebem advertências ou reprimendas dos seus superiores negam os fatos, em nome da unidade católica. Mesmo assim, tornou-se público que D. José Maria Pires e D. Marcelo Carvalheira receberam cartas de advertência do Vaticano, que tem agido já há algum tempo contra o chamado “clero progressista”.
D. Pedro Casaldáliga, em setembro de 1988, recebeu uma carta ameaçando-o até com a suspensão de suas funções se persistisse em fazer viagens à Nicarágua sem prévia autorização da Santa Sé e não permanecesse em silêncio obsequioso sobre temas polêmicos.
A Igreja, muitas vezes, ainda age em conformidade com os dogmas e doutrinas do século XVI, punindo e controlando os seus padres considerados inconvenientes para os interesses do poder católico, seja no Vaticano ou na humilde aldeia.
Em Mari, o padre Ivonio Cassiano conquistou os fiéis com seu carisma natural, entrando em choque com alguns elementos leigos e autoridades da Igreja na região, não sendo bem visto também por políticos do lugar, os quais não aceitam que o padre junte a fé com o exercício de ações sociais, na defesa dos humildes e excluídos da comunidade. Essa práxis progressista encontrou franca oposição na Arquidiocese do Brejo, que buscou restabelecer a “ordem”, praticamente expulsando o padre Ivonio de Mari, na suposição de que, por esses métodos, retorne-se aos princípios do Concílio de Trento (1545-1563), segundo o qual os padres devem viver num regime de total exclusão do mundo exterior.
O pitoresco prende-se ao fato do padre Ivonio ter recebido “instruções” para não mais retornar a Mari em nenhuma hipótese, onde é adorado pelo povo e reconhecido como “cidadão honorário” pela Câmara Municipal. No dia 30 de março, data do aniversário do padre, a comunidade organizou uma comemoração, mas o sacerdote foi “desaconselhado” a receber a homenagem no território do município de Mari.
Fatos como esse mostram que a Igreja persiste em se intoxicar no mofo do seu anacronismo. Enquanto isso, o avanço das seitas evangélicas multiplica o número dos seus fiéis, ano a ano. A Igreja demorou três séculos para admitir que condenou Galileu injustamente e que a terra não é o centro do universo. Reconhecer o direito fundamental do cidadão de ir e vir pode demorar algum tempo...”