PROFISSÃO DE FÉ PARA O MUNDO TERRENO
Fui ditando para a moça meus dados para o preenchimento do cadastro. Como era para uma pesquisa sem fundamento científico nem me vender nada (graças a Deus), fui divagando.
- Moro numa rua que começa em Belo Horizonte e vai dar no meu coração.
- Meu número é o da sorte.
- Identidade? Possuo com muita coisa. “Com algumas pessoas eu me simpatizo por acreditar nos seus olhares, com outras eu me simpatizo pelas suas qualidades de caráter, com outras ainda me simpatizo por me simpatizar com elas, porque sou rei, absoluto na minha simpatia, basta que ela exista para que tenha razão de ser... (obrigado, Bethânia)”
- Já meu CPF, prefiro omitir, vai que a Receita veja... é muita explicação.
- Agora, a minha profissão? Bom, coloca aí, aposentado. Não, não. Estou novo ainda (mas já não sou aposentado?). Põe historiador. Não, não exerço mais na sala de aula, só na observação. Então ponha técnico em mecânica. Pensando bem, já não exerço mais também. Então ponha cozinheiro. Isso eu exerço bem, mas não sou profissional, tem problema? Tá difícil, vá de escritor. Mas como escritor, se nem livro publiquei ainda? Mas já tenho dois , prontinhos para o forno (opa, confundi com a cozinha). Prontos para a editora. Então não sou profissional. Ponha escritor diletante.
- Que isso moço, diletante?
- Vai de escrevedor, que é melhor. Quer saber, precisa mesmo? Então é melhor gastar essas três linhas e me colocar no sonho dos bóias frias: - “São pais de santo, paus de araras, são passistas, são flagelados, são pingentes balconistas. Palhaços marcianos, canibais...” Tá bom assim? - Agora pode fazer as suas perguntas.
Ela só riu e disse que já bastava. Saiu resmungando:
- Cada maluco...