SOBRE O BEIJO / PREFÁCIO
AS CRÔNICAS LIGEIRAS DE “SOBRE O BEIJO”
Prefácio de Nelson Marzullo Tangerini
Este livro, como vocês podem ver, é uma homenagem a meu tio Manuel Pêra, grande admirador do talento de Nestor Tangerini.
Os dois, quando se encontravam, costumavam invadir a noite e a madrugada conversando.
Pêra costumava dizer que, quando conversava com Tangerini, bebia sabedoria e se renovava em humor.
Tangerini também admirava o talento de Manuel Pêra, um dos maiores atores do Teatro Nacional. Tanto que homenageou Pêra com a crônica “Sobre o beijo”, que retrata um pouco do cotidiano dos dois, da “prosa” bem humorada que os dois mantinham quase sempre.
O cronista era fã no. 1 de Manuel Pêra – no palco e fora do palco. Gostava de ver o Pêra brilhando no teatro ou no cinema. A admiração era recíproca. Pêra, natural do Porto, Portugal, movimentava-se no palco com tanta naturalidade, que parecia estar em casa. Amava o teatro. Vivia o teatro. Embriagava-se de teatro. O teatro era a sua vida.
O grande ator – na altura e no talento -, muitas vezes invejado por “amigos” da ribalta e prejudicado pela burrice de alguns críticos teatrais, costumava dizer para Tangerini:
“- Eles têm medo é disso aqui, ó!” E apontava, ironicamente, para o chão.
Tangerini, também, ironicamente, lhe perguntava:
“- Isto, o quê, Pêra?”
E o ator respondia:
“- A minha sombra”.
Conheci também Manuel Pêra dentro e fora do teatro. Aliás, mais fora do teatro. Era um homem reto, justo. Assim como Tangerini. A amizade entre os dois durou anos. Até a morte de Tangerini, em 1966.
Todos nós, em nossa casa, admirávamos Manuel Pêra, aquele homem que tocava violão e cantava, que fotografava e filmava toda a família, que trabalhava muito bem com carpintaria e alfaiataria [fez muitas roupas para minha tia, Dinorah] e que ainda mostrava seu grande talento no palco.
Era um homem apaixonado pela família – Dinorah Marzullo, sua esposa, e Marília e Sandra Pêra, suas filhas.
Aventuro-me em dizer-lhes que Manuel Pêra foi o primeiro fã de sua filha Marília Pêra.
Éramos, Nirton, Nirson e Nelson Tangerini, também amigos e fãs dele.
De minha parte, tenho muito orgulho de um dia ter convivido com este grande homem e este grande ator de teatro.
As crônicas ligeiras, escritas após o acidente em que Tangerini “ficou sem um dos braços”, como diria o advogado e poeta Maurício Marzullo, cunhado e amigo do cronista, em seu poema “Os grandes vultos da humanidade”, mostram que o escritor não se deixou abalar pelo desânimo. Salvou-o o seu humor cítrico.
Prejudicou-o o seu jeito sincero de viver. “Não gasto vela com defunto que não merece”, dizia ele, pouco chegado à bajulação.
Incluí, para avolumar o livro, algumas outras crônicas publicadas fora de O Espeto, uma revista feita por ele, Lourival Reis [o radialista Prof. Zé Bacurau], Ieda Reis, Maurício Marzullo, o caricaturista Abel, o compositor Aldo Cabral, entre outros.
Como escrevia sem parar, Tangerini acabou tomando conta da revista, usando, porém, inúmeros pseudônimos: Conselheiro Armando Graça, José Oitiçoca [resolvendo, de maneira irônica, embaraçosos problemas de Gramática], Dom T, João da Ponte, Humberto dos Campos, Conselheiro XX Mirim, Conselheiro X Toso, etc.
Meu pai ofereceria, também, este livro à minha mãe, Dinah Marzullo Tangerini, ex-atriz da Companhia Teatral Alda Garrido, que teve o trabalho de guardar todo este material, que um dia fora jogado no lixo pelo próprio Nestor Tangerini.
Sem o seu carinho, sem a sua admiração pelo talento do meu pai, seria difícil, hoje, para todos nós, apreciarmos toda esta formidável obra literária.
Nelson Marzullo Tangerini, 54 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.
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