“Escrever para os homens, e não para as traças”
Estas são as palavras que apanhei na alma um dia destes em que meus olhos percorriam escritos de um homem verdadeiramente sábio: “escreva-te para os homens, e não para as traças!” Percebi então que a sabedoria de um homem é tão medíocre quanto ele mesmo. Quando escutares de um vivente um discurso no qual o assume descaradamente que é ele um homem sábio, esteja certo meu caro, uma toupeira lhes fala, é este um imbecil em trajes de sábio.
O verdadeiro sábio é aquele que depois de mergulhar em toda sapiência que o mundo o possa oferecer assume que sua sabedoria de mundo é nada perante a divina sabedoria do seu Creador. Quando este se conscientiza que é apenas um canal por onde escorre as águas da fonte infinita, este sim podemos o acunhar de sábio – ele atingiu a zona transcendente da sabedoria divina e transborda em amor sapiencial...
Em uma das frases mais conhecidas entre os mundanos, a frase talvez mais completa que um homem proferiu em sua sã consciência, frase esta que podemos saborear uma completa humildade de espírito, uma aceitação de finidade perante o infinito, compreensão do ínfimo conhecimento que preenchi o pequeno recipiente humano... Eis Sócrates na culminância de seu filosofar! “sei que nada sei”. Se nos causam risos, se nos parecem tão simples frase é porque ainda o somos inconscientes deste sabor que saboreou o grande filosofo grego – estas palavras são tão místicas quantos as palavras do Cristo Jesus – o maior dos mestres da humanidade. Sócrates, enfim, depois de muito saber do mundo chega à estranha conclusão aos seus prezados ouvintes, de que nada sabe...
Então, caro amigo, fiz esta pequena introdução porque se faz necessário ao que pretendo discorrer, sem muito rodeio, sobre a hipocrisia artística de certos homens contemporâneos, ditos “sábios”.
Como compreender a veracidade de um artista que aparentemente nos revelam um sujeito dotado de uma sapiência divina? É bem fácil, basta que olhemos as suas ações, que analisemos se o que dizem não troveja mais que o que fazem – é nas ações que conhecemos os homens, e não nas palavras!...
Em nosso cotidiano há uma infinidade de homens ditos cidadãos cultos, que utilizam de suas habilidades artísticas para enobrecerem perante os homens, fazendo-se deuses, adorados... São eles na verdade pseudo-artistas. Pois o verdadeiro artista não vive para elogios, e quando elogiados não se vangloriam, porque é inteligente o bastante quê o que sabem é nada. O verdadeiro artista, em sua grande maioria, é desprezado, odiado, incompreendido por todos, porque a beleza da verdade é a música que sonora sua vida...
Sei de alguns homens que se passam por heróis. Dizem contribuir para a formação cultural, artística, religiosa e política da humanidade, quando na verdade o que fazem é pôr fora do alcance dos menos favorecidos o que julgam eles o saber que pode trazer ao mundo a eterna harmonia. Esses não passam de mercenários artistas de elite, quando deviam democratizar o seu saber, levar as classes carentes dominadas pela burguesia uma mensagem de mudança, de transformação, de luta por uma vida melhor, justa. Vivem a martelar que não suportam a cultura popular modista, os escárnios culturais que utilizam da vulgaridade do corpo para comercializações. O que mesmo fazem, em vez de procurar meios de democratizar o que julgam saber de bom e que podem contribuir para a humanidade, é refugiar entre os que estão a altura do compreender o que escrevem, ignorando aquele jovem perdido entre os velhos livros de uma biblioteca pública, julgando implicitamente que não o é suficientemente letrado a compreender seus discursos... – esses são hipócritas assumidos, mercadores de cultura, vendedores de palavras transformadoras, escritores para as traças...
“Escrever para a humanidade!”. Estas palavras me roçaram tão bem aos ouvidos quando as li de um homem sapiente de uma sabedoria divina, este humildemente revela-nos em seus escritos sua finidade humana diante o saber Creador!...
Então, se os “sábios homens cultos” deixassem de serem deuses humanos e passassem a serem discípulos em prol da humanidade, renegando por amor a verdade os prestígios sociais, os lucros financeiros obtido pela comercialização de sua expressão artística, tão valiosa seria sua contribuição aos povos!... Seriam verdadeiros escritores, poetas, cantadores... Mas não, seu orgulho é tão grande que o desapego espontâneo ao lucro material pode lhes ocasionar depressão, e já não exercitam mais sua arte se não são remunerados por ela... – as suas influências estão relacionadas ao gozo material, ao prestigio social e idolatria.
O artista que restringe sua arte aos que podem pagar altos valores para apreciação é mercenário, produtor de expressões sem alma, já o que democratiza seu saber, tornando mais acessível às classes empobrecidas, este sim além do talento, da habilidade com a matéria, é dotado do gênio de transformação!...
Os gênios são heróis por excelências, humildes no que fazem, sábios bastantes para afirmar que eles de si mesmos nada fazem, mas que o Cristo é quem age no seu fazer, por isso não há motivo para exaltar-se, estão certos de que o dom que lhes cabem na vida é “escrever para os homens, e não para as traças!...”
(Agnaldo Tavares)