O ATAQUE DAS FORMIGAS

Assisti, dia desses, em companhia do meu filho de sete anos, o filme “Vida de Inseto”, de John Lasseter. Diverti-me vendo as formigas vencerem os terríveis gafanhotos na luta pela liberdade e sobrevivência. Por que, numa situação como essa, a gente sempre torce pelo mais fraco? Na vida real, entretanto, sabemos que o mais fraco nem sempre é o vencedor. Ilustro isso com a seguinte história.

Ao mudar para a casa nova, resolvemos fazer um jardim. Plantamos a grama e um belo coqueiro. Faltavam as flores. Passeando, pois, pelo setor de jardinagem do Carrefour, em Campo Grande, vimos uma pequena muda de roseira, com uma rosa branca muito bonita, as pétalas como que feitas de pura seda. Entendemos que ela ficaria bem no nosso jardim e a compramos.

No outro dia, um domingo, cavamos o buraco, adubamos e plantamos ali a pequena roseira, sonhando para que ela crescesse logo e se transformasse numa planta adulta, carregada de rosas, que se abririam de madrugada e atrairiam para si as centenas de borboletas multicoloridas, abelhas e beija-flores. O dia passou rápido. Veio a noite, com sua imensa lua-cheia a branquejar o mundo, como num conto de fadas. Fomos dormir logo depois do “Fantástico”, o cão latindo no quintal.

Acordei cedo na segunda-feira e, depois de coar o café, fui aguar a roseira que havíamos plantado ontem, já que dali a pouco tinha que sair para o trabalho e me preocupara com os demais afazeres do dia. Primeiro fiquei decepcionado, depois com uma imensa raiva, ao ver nossa pequena roseira totalmente desfolhada e a tênue rosa caída no chão. Não, não foi preciso convocar Poirot para descobrir as autoras da barbárie: as formigas cabeçudas. Sua trilha atravessava o jardim e terminava num buraco a meia altura no muro, por onde tinham passado. A delas certamente estaria no lote baldio ao lado. Comprei mais tarde em um supermercado dois vidros de formicida e, à noite, preparei o contra-ataque. Fui com o balde de veneno para o jardim, acendi a lanterna e lá estavam elas, aos milhares, indo e vindo pela trilha, a carregar as pétalas da rosa que ficara para trás, na noite anterior. Como um avião de guerra que mergulha para o ataque a seus inimigos, parti para cima das formigas, espalhando sobre elas o veneno mortal. Minutos depois estavam todas mortas. A operação foi um sucesso.

Recuperada do ataque das formigas nossa pequena roseira soltou novas folhas e agora cresce ininterruptamente. Em breve será uma planta adulta, terá lindas rosas e atrairá centenas de borboletas multicores, abelhas e beija-flores. Como sempre sonhamos.