Universo

Ao olhar algumas fotos, há pouco tempo antes do agora, vi imagem semelhante ao que eu não sou mais, como se estivesse preso a um espelho que não reflete o que mora aqui, no peito. Aquele tempo, distante, me lembra de situações que revivo a cada segundo, e são como se fossem hoje, ainda que vivam ontem. Encontrava-me, certa vez, na altura do universo, junto à ela. Faça-me voar, ouvi; dou-te asas, apenas, falei. Não que eu pudesse resumir um momento no resguardo simples de palavras semanticamente opostas; mas assim tentei fazer, e dei, sim, asas ao pulo do universo. Ela, sem olhar para trás, voou perante o meu reflexo n’água; eu, absorto em meu silêncio, fiquei somente a pensar. Com ela – e como ela – eu vejo minhas lembranças voarem pela altura daquela bela integração do ser; e lá se vão... Não que eu queira que o momento volte, mas, se pudesse, queria sentir, de novo, somente aquele cheiro de liberdade. Cheiro esse que guardou o que o próprio universo (sempre alto) fez questão de anular: a união do meu coração ao dela. União que, agora, está friamente desfeita. Futuro.