LUCY

Quando do inicio da raça humana, alguns dias atrás, pudemos observar a criação, ou melhor, a geração de algo espantoso e ao mesmo tempo assustador, uma nova forma surgia em um mundo já envelhecido pelas guerras naturais que já vinham enfrentando a vários milênios. Uma forma ridícula, sem cauda de apoio, sem os pelos de proteção ao frio, sem a casca grossa contra os inimigos naturais, pois muitos animais teriam sua curiosidade despertada para aquele inseto, algumas vezes branco como um verme, outras vezes marrom como minhoca, ou ainda negros como amoras da época. Tipo especial de alimento, bichinho esperto e rápido: se não o acertasse na primeira patada, tínhamos que correr um bocado atras do vermezinho. Sorte ele não voar. Se entrava numa toca, só saia se já estivesse ocupada, e como saia rápido, e se tivesse para onde fugir, grudava-se ao primeiro rochedo ou subia em uma arvore com a agilidade de um macaco, mas para descer, tinha a esperteza de um preguiça. Se estivesse em grupo, tornava-se feroz e agressivo, pegava pedaços de paus e pedras e jogava em cima do pseudo perseguidor. Gritavam feito uma fêmea no cio e não eram muito perigosos quando a gente os comia, nem tampouco venenosos. Tinha um gosto estranho, variava de acordo com a cor, com o tempo de perseguição, com o local de caça e com a parte que se comia. Como todos os outros animais, a parte mais gostosa estava em menor proporção e protegida por um coco duro e redondao . A parte mais macia, não tão saborosa, geralmente ficava no chão quando ele desistia de fugir, eram como duas abóboras geminadas. Tinha ainda dois palitos que ele colocava, ora um ora outro na frente e corria feito desesperado. Figurinha ridicula. Petisco gostoso porque não tinha muitos pelos e por esse motivo não fazia muita cocega ao engulir-mos, só atrapalhava um pouco a deglutição quando a gente não os matava bem mortinho: aí era uma dificuldade engoli-los, pois dentro da boca se transformavam em uma estrela e não passavam na garganta; mas uma boa massagem com a língua eliminava esse problema. Existia um outro tipo de verme, além desse musculoso, que não era tão rápido quanto, mas gritava, ou pelo menos emitia, emitia um som tão estridente e era mais arisco para manter-mos seguros, mas quando corriam geralmente caiam mais facilmente talvez devido aos dois pesos extras que carregavam na frente e o volume maior das aboboras geminadas. Era no entanto, mais saboroso e não se tranformava em estrela dentro da boca. Naturalmente, eram mais dificeis de serem apanhados pois viviam dentro das tocas com os outros tipos que saíam mais.

Como sempre, o tempo passa, o mundo se modificou e o enseto começou a criar aparelhos mais eficazes, que as próprias mãos, para se defender dos outros animais, começou a usar o fogo, que queimava, e lanças para distâncias, dardos para os pequenos e flechas para os grandes. Começou a ter mais filhotes e cada dia que se passava aumentava o numero deles, ficando ao mesmo tempo, mais fácil de caça-los e mais dificeis de serem apanhados. Em geral os antigos caçadores viraram caça. O interessante na questão toda, é que comiam os adversários mortos em combates justos, procuravam adversários para poderem matar e desprezar e ao mesmo tempo comiam a grama que nascia nos campos ou onde muitas vezes ele mesmo jogava a semente e ficava esperando crescer.

Criavam outros animais que depois eram comidos; quanto trabalho; e ainda aproveitavam a pele para os dias frios do rigoroso inverno.

Era um tempo gostoso aquele, até que um dia, um bicho desses tentou roubar a femea do outro - já conheciamos as diferenças - e o outro, dono da femea, achou injusta a ccoisa e brigou por motivos afetivos: era a primeira luta por amor no mundo; não nos custa esclarecer, que nesse mesmo dia, ou seja noite, o idilico casal comeu carne fresca regada ao sumo de uvas esmagadas à la piedra. Delicioso jantar, desencadeante de uma nova era: o canibalismo romantico. Ao mesmo tempo, descobriu-se uma nova fonte de suprimentos e energia pois se acreditava na época que se o inimigo é mais forte, comamos-lo à nossa saude e seremos tão fortes quanto o alimento o era. Acabaram-se as amizades no mundo inteiro, nada mais restando senão o interesse de um estomago ressequido pela fome. Era tudo tão simples, era só não gostar do vizinho, ou então perder no poquer de ossos da noite e ZÁS! já tinham um prato pronto. A principal causa-mortis nessa época, como não poderia deixar de ser, eram as femeas: elas que controlavam o cardapio diario e o regime de seus machos e seus filhotes. Ela que fazia a escolha da cor, do tipo e até mesmo do parentesco do prato do dia. Muitas vezes, é claro, errava naquantidade de sal ou no tempo de assar, mas eram tão raras essas situações que iniciamos uma nova era, uma nova fase ou se preferirem, um novo ciclo animal: quem manda é a femea, o homem só arranja os amigos.

Oficialmente não temos nada escrito ou de provas concretas quanto ao início da chamada época de ouro, época em que as femeas escolhiam o prato e muitas vezes os experimentavam, longe das vistas de todos, antes de matá-los e recheá-los.

Era de se esperar que fossem experimentados todas as partes possiveis e comestiveis. Acontecia de vez em quando o prato do dia ser trocado à ultima hora: aí a refeição principal era “marido à parmegiana”, refeição essa saboreada com gulodice pelas crias, com satisfação pelo macho em substituição e sem rancor pela femea satisfeita. Podriamos dizer ainda que era uma sociedade totalmente primitivista e esquizofrenica com um certo sabos de impaciência pelo mal funcionamento do macho.

Como é notório, sabe-se que uma femea insatisfeita é uma verdadeira víbora, pronta a tacar a qualquer hora e trocar as refeições do dia, apenas para que no dia seguinte possa cozinhar mais a vontade.

Esse tipo de filosofia era incutida nos filhotes femea deste o nascimento até a hora do inicio do cio.

Sempre, como sabemos, as moedas tem duas faces, é natural pois, que acontecida uma face por milênios, os machos acabassem querendo mostrar o quando eles eram femininos e começou-se a cogitar a respeito da outra face.

O comentário geral e internacional era: porque haveriam ele de ficar na toca cuidando de tudo, criando pequeninas femeas que mais tarde iriam comer, como tinha acontecido ao seu gerador e ao gerador de seu gerador. Sim, era o grito, queriam igualdade, mas é claro que se não fosse possivel a igualdade iriam continuar com a guerra fria e com os nervos, de frágil aço, em ação, em luta pelo ideal machista: igualdade, fraternidade e liberdade. É natural que se não conseguissem a fraternidade continuariam a comer a mesma comida preparada pelas femeas e se também não fosse possivel liberdade, queriam apenas ficar deitados mais um pouco antes de irem para a panela.

Onde ja se viu, eles, os machos, ficarem usando aquelas peles horriveis e fedorentas de veado ou zebra, enquanto as femeas vestiam-se com peles de leão ou trigre.

Igualdade, era o grito: queremos as mesmas roupas e usar os mesmos cabelos; viva a fraternidade, comeremos nossos irmãos como a nossos inimigos; liberdade, poder andar de um comodo a outro na caverna sem ter de dar satisfação dos atos. Poder cuidar dos filhotes como é necessário cuidar, com carinho e compreensão, criar monstrinhos educados.

Mas, sempre pensando em dinheiro, uma moeda tem duas faces mas também tem uma borda.

A guerra civil é desencadeada; não se sabe mais quais são as ideologias, se as femeas querem o poder ou se os machos querem as femeas. Em todo o caso, quem sabe um dia, alguém se lembrará da frase mágica que transformará as femeas em animais doceis e os machos então começando a reger o cardápio diario. Atenção para esse dia pois ele se aproxima mais proximo que distante e então, quando do porvir, ouviremos grunhidos de amor e prazer e não apenas o ruminar incessante de uma cartilagem auditiva de um parente querido.