O assaltante
Aconteceu um assalto. Ele, sem antecedentes criminais, havia sido preso. Família humilde (era pescador). Era essa, pois, sua origem. Reputação, em sua vila, ilibada; fora dali, pouco que sabia. Conhecido como coração gigante. Qual motivo, então, de tamanho despautério? Ouvia-se falar. Posições e contraposições, em segundos, foram postas; ele iria – sim – ser julgado pelo juiz; já havia, porém, sido pelos seus. Nada justificava aquela conduta, diziam. Ela – sempre calada – nada dizia. Que motor seria gerador de tamanha confiança? Pouco se sabia. Há alguma explicação, pensava. É de extrema importância ver o que de significativo havia naquela mulher; ela, apesar de noticiada do fato, não se fazia abalar; confiava, antes de tudo, no que sabia.
O fato decorrido seria passado na televisão; ele iria dizer o motivo de tal atrocidade. Chegada a hora - com todos prostrados à tv - lá se via sua imagem. Ouviu-se risos (nunca antes alguém da vila havia aparecido na tela). Ele começou: Não que eu precise, mas furtei. Não que eu quisesse, mas roubei. Não que a necessidade houvesse ultrapassado os limites vãos da existência, mas subtrai um objeto. O porquê, perguntam vocês; Amo-te, respondo-lhes.
Ela, nesse exato momento, sentiu subtrair-lhe o tempo lágrimas aos olhos, e chorou. Não complico, disse ele, o que de fato é simples: o amor. Essa foi a forma mais simplória de mostrar a todos o quanto lhe amo, enquanto minha inocência é negada. Enquanto todos me acusaram, eu sei – mesmo sem saber – que seu coração faceiro nunca negou-me o contraditório. O questionamento não deve ser feito pela peça que roubei, mas pelo porquê de eu a roubar. Roubei por quem um dia roubou meu coração: Roubastes meu coração.