Uma Jóia Chamada Lourdes
É uma mulher de pequena estatura, mas de tão grande coração. Dona Lourdes do salgado, assim é conhecida no bairro onde mora. A vida nunca fora solidária com ela, logo cedo, aos dois anos de idade perdera a mãe no parto do irmão caçula. Seu pai, um homem rude, deu todos os oito filhos que tinha e ficou com os caçulas, ela e o irmão. Órfãos e sendo obrigados a viver sob os cuidados de uma madrasta, ali começava o seu calvário.
Sozinha no mundo e tendo a responsabilidade de cuidar dos outros irmãos que viriam, foi sofrendo as marcas de uma vida cruel. Suas lágrimas ninguém as enxugava e seu sorriso ninguém nunca os via. Pobre, mulata dos cabelos lisos e longos, neta de índia, era constantemente discriminada e humilhada por seu pai e a esposa dele. Não tinha a quem pedir socorro, apenas engolir sua dor e se conformar com o que via e sentia.
Certo dia, já com dezesseis anos resolve fugir com seu namorado, que ao ver seu sofrimento, lhe dá uma chance de ser feliz. Não sabemos ao certo o porquê dessa atitude, mas temos certeza que ali recomeçaria a sua vida longe de todo aquele sofrimento. Casados e dormindo em cima de um papelão, iniciaram sua vida juntos. Nada era fácil para essa pequenina mulher de ouro. Raçuda, eis a bela definição para essa que me deu a vida. Uma mulher de tanto valor, uma jóia raríssima que tão preciosa não tem preço. Virtuosa! Paciente, sofredora, sonhadora, carente, batalhadora, fiel, acolhedora e tantas outras qualidades descrevem a minha mãe. Mulher de fibra. Sim, como você, que ao mais alto obstáculo não desiste de lutar. Perdeu sua infância e sua adolescência, aliás nem sabe o que é isso, mas não perdeu a sua dignidade de mulher e nunca perdeu a sua fé no amanhã. Para cada lágrima de um filho seu estava ela lá enxugando-as e encorajando-os a prosseguir. Calava a sua dor para não preocupar os outros com seus problemas.
Essa mulher guerreira que me ensinou a acreditar que eu podia ver uma luz, ainda que eu não a contemplasse. Essa nobre e talentosa cozinheira, que suas mãos aprendeu a recomeçar quando seu esposo caiu enfermo. Dessas abençoadas mãos saía o sustento para os seus. Sempre feliz e satisfeita preparava seus salgados e doces e oferecia aos outros. A essa Dona Lourdes Do Salgado dedico minha homenagem ao Dia Internacional da Mulher e outras tantas Marias, Lourdes, Lúcias, Paulas, Mirians, Valdas, Iêdas, Adrianas, Talitas, Kátias, Franciscas que ao invés de sentar e esperar a morte chegar foram à luta e fizeram com que esse dia existisse.
É prá vocês que estou aqui nessas páginas dedicando o mérito de ser mulher. Sim, com muito orgulho e esse tão imensurável amor que transpõe as barreiras do real e geográfico e chega até você para agradecer pela sua existência.
FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
Este texto faz parte do Livro "Nossas Mulheres 3"
Uma Jóia Chamada Lourdes - Minha autoria