Fusca e cia

Outro dia, numa crônica, mencionei o fusquinha. Algumas pessoas acharam engraçado, outras nem tanto. Sugeriram que estou sendo passadóloga. Nada disso. Não tenho um pingo de saudade de andar em um deles, atualmente satisfeita com meu Fiesta, simples, porém moderninho. Flex. E se pudesse, até o trocaria por um Honda Fit...

A questão é que o carrinho da Volkswagen além de contribuir para o desenvolvimento da indústria automobilística nacional, fez parte da vida de uma geração. A minha. Serviu pra trabalhar, viajar, passear, namorar.

Lembram-se do filme Se meu fusca falasse? Pois é...

Mas não falava. Nem bebia água. Só roncava, soltando gases que julgávamos inocentes, ora considerados poluentes. Aguentava o tranco, fosse em ruas pavimentadas de paralelepípedo, asfaltadas ou estradinhas de terra, subindo e descendo serras. Só de vez em quando, já meio cansado, batia os pinos.

Quem podia comprava o seu a prestação. Se não, como eu, disputava quase a tapas com os irmãos. Um só, para três ou quatro jovens, era suficiente para bastante confusão. Embora com hora marcada para ir e vir, nunca dava certo. Alguém sempre ficava na mão.

Os meninos iam encontrar a namorada. Esqueciam-se da vida, e quando eu conseguia recuperá-lo, já atrasada para algum compromisso – em geral aulas na facu ou particulares – via o ponterio da gasolina no toco. Tinha que passar primeiro no posto e, só de raiva, mandava colocar justo o que dava pra andar.

Papai tentava controlar as brigas, exigindo preferência a quem precisasse mais. Ou porque tinha horários mais rígidos, ou porque devia ir mais longe – pra trabalhar ou estudar. Assim, a cada ano que passava, um de nós era o “dono principal”. Mas pensam que adiantava? Que nada...

O Fusca viveu seus dias de glória, somente suplantado pela peruinha Brasília. Esta se imortalizou na voz dos simpáticos Mamonas Assassinas. Infelizmente eles se foram, deixando-nos como herança sua famosa Brasília Amarela...

Mina, teu cabelo é da hora

teu corpão violão

meu docinho de coco

tá me deixando louco

minha Brasília amarela

tá de portas abertas

pra gente se amar

pelados em Santos...

você me deixa doidão...

oh! Yes!