NASCI NO SUBÚRBIO DOS MELHORES DIAS
É o ESPELHO de João Nogueira que hoje melhor versifica minha vida. Tudo bem, recentemente eu terei nascido! Já que para o tempo da História, que urge e agora não muda; que corre e se rotula, é pouco. E ainda desfruto dos louros joviais aos vinte e poucos.
Não me encanta uma qualquer passagem de infância. Mas ainda inocente, assisti a ascensão e a crise psicoinstitucional de nossa democracia emergente. Sobretudo, me ilumino, se pensativo, naqueles raros momentos de risos, curiosidades, perguntas:
- Pai, por que eu tenho de não ser outro e ser só eu?.. Mãe, por quê?
Lembro como hoje fosse dos recreios na pequena escola. Eu observava os meninos, brigando, brincando de ser homens ou jogando futebol. Imune dessa razão, eu já contemplava a clausura duma sabedoria que não tinha, almejando ser o “sábio”, um eremita isolado no “faz-de-conta” com uma doce esperança. Ou eu lá vivia, perdido nas fracassadas tentativas de entre nuvens, encontrar meus mortos na lâmpada azul dum “céu-criança”. Pois quando Deus pairava neste víeis das primeiras andanças, naquele tempo, eu não era ateu, e lágrimas me faziam à sua semelhança.
Ah, como é culposa e trágica a vida adulta! Vem-me num repente de saudade o gosto da sopa da vovó; infames peraltices em seus quintais; almoços dominicais; e à memória, meu avô se dando ao consolo do neto – um triste garoto -, que nunca entendera a real motivação daquele velho médium tratá-lo por “doutor”.
Doutor?!.. Não, não fui!... Talvez nem chegasse à categoria: professor. Não obstante, deixarei de omitir em minha biografia, o dia que aos meus, àquela “tia” primária dizia:
- Pais, seu filho é fraco por demais. Das letras entenderá jamais.
Eu então, “semi-analfaburro”, trazia para as brincadeiras um mundo errante, sobre o qual, graduara-me vagabundo. Um pequeno pessimista!.. Não me penalize, jamais fui moribundo.
Eu então, rumo ao júbilo duma irreal deserção, tomava por fatal os conceitos da “sóciomoralidade”. E foram pro “cacete” aquelas verdades!
Eu então, estava descobrindo nos gibis, o politeísmo da loucura. Amiúde, perfazia-me na escrita; a magia das estórias rascunhadas em tez rana e taciturna; ensaios apócrifos; e toda a profanação pelo bem futuro; para toda a vida... Eu transcrevia infantis sentimentos - às vezes redigia, outros eram mesmo poesias -. Mas rasgava tudo e ninguém lia. Ninguém me caçoava. Ninguém me ria...