BATE PAPO COM FERREIRA GULLAR
 
 
         Conheci um lugar em Santa Tereza, bairro muito charmoso, muito conhecido dos cariocas e atualmente mais usado como área cultural, mas que há muito não vou até lá. (Dito lugar é o CEAT (Centro Cultural Laurinda Santos Lobo), onde aconteceu um dia todo de atividades culturais, das quais me foi informada apenas uma, o BATE PAPO, Conversa com os escritores Ferreira Gullar e Ondjaki, mediada por Adriana Armony). O evento seria às 16 horas do dia 16/05/09. Soube disso ontem e fiquei maluca de ir. Como iria perder uma oportunidade de ver ao vivo e ouvir o Ferreira Gullar?
         Chamei meu filho como companhia, não pode, ia sair com a namorada. Chamei minha filha, não pode, já combinara sair com as amigas.
         Fui de taxi. Não foi fácil localizar o local, a Livraria Largo das Letras, mas cheguei lá uns quinze minutos antes de começar o debate.
         Muita gente, que ignorei, eu estava objetiva, fui direto a uma mesinha com livros do Ferreira Gullar para vender. Comprei “SOBRE ARTE SOBRE POESIA (UMA LUZ DO CHÃO)” e perguntei se era ali que eu encontraria o Ferreira Gullar. Desabafei com o vendedor _ “Você o conhece? É fácil de lidar com ele? Será que ele me deixa dar um beijo em sua face?” O livreiro o conhecia e disse que sim, que ele era ótimo.
         Entrei na sala já quase cheia e tomei um lugar vago bem na frente. Levei comigo minhas crônicas, quem sabe seria possível mostrar uma a ele? O sonho da gente não tem tamanho nem conveniência de razão. Mas não dei bandeira, estavam acondicionadas num envelope e dentro de uma sacola plástica. Entrei e me situei ali com a minha verdade.
         Eu só pensava “Eu e Ferreira Gullar”! Se fosse dada oportunidade de pergunta da platéia eu ia querer saber a importância de termos ídolos e qual o papel deles sobre os escritores, sobre os que escrevem.
          A sala lotou e tinha gente saindo “pelo ladrão”.
         Entraram os três Poetas e sentaram: Ferreira, a Mediadora Adriana e um escritor de Luanda, Ondjaki, jovem escritor, muito inteligente e excelente fala, parece até que famoso, mas eu nunca ouvi falar. Vou procurar conhecer seus livros.        Ela fez as apresentações e disse “quem quer fazer uma pergunta?”
         Eu imediatamente levantei e ergui o braço e o indicador e falei antes de todos: EU!
 Fui a primeira antes de todos. Falei em tom claro e alto:
         Pergunto aos Poetas: “O que é o ídolo para o escritor e o que representa para quem escreve”?
E completei: “Eu estou escrevendo”
E olhando direto para Gullar falei como uma prece: “Você é meu ídolo.”
“Estou emocionada!”
Minha voz e minha presença de pé, cara a cara com ele foram fortes e se fez silêncio, enquanto minha fala em plenitude continuava:
“Acho seus cabelos lindos!”

“EU te amo!” Com plena voz como falo fácil quando sinto e comunico.

“Acho suas mãos, belas!”

         Silêncio respeitoso a mim e ao Poeta. Por que o tom foi solene e verdadeiro.
         Sentei-me, tranqüila, vencedora, realizada. Eu estava sendo EU. Senti-me forte e maravilhosa. Ninguém era mais que eu. Importante era Eu e o Ferreira Gullar, uma oportunidade acontecida, sendo vivida.
         E ele respondeu lindamente e sério e calmo:  

         O escritor escreve para os outros. Quem escreve, tem a dizer de si para os outros”.

         Falou muito, mas eu resumo neste teor. Foi muito bonito, enriquecedor para quem escreve.
Mas eu estava vivendo muito intensamente o que ouvia e não sei reproduzir palavra por palavra dele.
Gullar falou longamente e bem. Foi uma resposta excelente. Valeu para todo mundo.
          Foi muito aplaudido.
         Se fosse o Chico Buarque, talvez eu perdesse a voz. É outro ídolo que amo.
 
         Venci as minhas fraquezas ou barreiras, que não eram minhas, mas que foram introjetadas, Hoje, 16/05/09 eu falei com Ferreira Gullar, eu o vi pessoalmente, ao vivo, no mesmo espaço e depois ele autografou um livro e eu disse sorrindo para os seus olhos “meu nome é Maria Luiza com Z”, e pedi para tocar-lhe a mão, a mesa larga quase não permitia nossas mãos se tocarem, mas estendemos as mãos um para o outro e nossos dedos se tocaram com estima e respeito, e pedi que me desculpasse e eu lhe desejava saúde e felicidade.
         Olhamo-nos humanamente.
         E o pedestal em que botei o ídolo foi eliminado, eu cresci.
E agora que escrevo estas palavras começo a chorar, percebendo a minha grandeza. As lágrimas rolam, mas de emoção humana de vitória de ser maior que eu mesma. Minhas lágrimas são a compreensão.
         São a grandeza de que o ser humano é capaz de ser. Leva-se uma vida toda para alcançar este entendimento.
         É uma realização pessoal.
         Choro de felicidade de alcançar e por superar as fraquezas de que já fui. Choro libertador.
 
         Ele é meu ídolo e sempre será. 

         Mas agora eu sou ídolo para mim também.