Choque de moralidade

Enquanto pomos em evidência franca os frutos indesejados da atual crise econômico-financeira, deixamos de lado o carecido choque de moralidade de que precisamos para falarmos da outra crise bem maior que persiste inquilinando entre nós, a crise da falta de humanidade. Disso decorrem os maiores males que estão atravessando o nosso cotidiano e nos levando a um precipício civilizatório sem igual na história contemporânea.

Inserimos no miolo contextual da crise econômico-financeira atual os contrapontos indesejáveis da ausência de memória crítica, o que de certo nos desvia do esperado gesto de pormos em mesa limpa a toalha recheada por nossas assertivas, aquelas que devem e podem mudar a rotina fática desmiolada que insistimos em usar em nossos procedimentos rotineiros.

Estamos caminhando para um desacerto imensurável. Se continuarmos fechando os olhos para nossos mais urgentes e reais problemas sociais, como a fome e a segurança pública, deveremos afundar em um mar agitado, sem condições termos de chegar à praia inda com vida, depois de gratuitamente nadado contra a maré para morrer na praia. Estamos sujando os córregos, envenenando os rios e matando os mares, em um proceder oceânico sem nortes e sem sentidos. Estamos deixando de ser humanos, gente, para cavar nossa vala comum de destruição. Enquanto o planeta resfolega, muitos de nós já nem mais respiramos.

Que se ausente de nós esse legado destruidor e que possamos dar a volta por cima e prepararmos a limpeza moral dos nossos conceitos ditos novos e atuais, transformando-os em algo agradável e frutificador de uma vida saudável!

Nem sei se a natureza nos permitirá reconstruir tudo o que já destruímos dela. Há crimes que são imperdoáveis porque causam a morte da alma de quem é vitimado por eles. Estamos destruindo o que não pertence apenas a nós, mas às gerações futuras que talvez nem vejam mais os nossos frutos miseráveis de destruição.

Um choque de moralidade bem que poderia ser dado em nossas condutas distorcidas do bem e vermos transformados em novos homens e diante disso construirmos um mundo novo, pleno de paz e de amor. Mas, para que tudo isso aconteça, teremos que reprogramar nossas ações de hoje, vendo nelas, além dos interesses varejistas de poucos ególatras, um vínculo forte do grosso e desejável mundo vivo, limpo e feliz. As desigualdades sociais, enquanto forem vivas demais, estarão afastando todos nós de qualquer merecido paraíso.