PARA QUEM NÃO CONSEGUE VOAR

“O cara comprou uma nave”. Interessante esta expressão. O termo "nave" nos remete a algo superpotente, futurístico, bonito e, é claro cobiçável.

Tudo certo até aí!

Não é nenhuma novidade saber que grande parte dos seres humanos necessita de modernos e sofisticados carros (as tais naves) para sentirem-se potentes.

E se é que precisam e podem ter que os tenham.

O que não pode; o que é inadmissível; é ver homens, e até mulheres, querendo voar com estas naves em pleno perímetro urbano. Façam-me o favor!

Ainda não construíram rodovias no céu. Ainda trafegamos por estradas feitas no chão, muitas das quais nem asfaltadas são.

Por enquanto, neste planeta, a desnivelada distribuição de renda não permite que a grande massa tenha uma nave destas. Nem pagando em 100 meses sem juros.

É por causa deste pequeno detalhe que os carros populares ocupam 90% das estradas e ruas. Vale lembrar que estes carros não voam. Eles rodam simplesmente, na velocidade que lhes é permitida. Reformulando: Eles rodam na velocidade permitida.

Então, aos pilotos de veículos superpossantes que costumam se exasperar e buzinar no primeiro milésimo de segundo que o semáforo mostra o verde, para que os insignificantes e lentos saiam da frente. Aos senhores e senhoras que vestem o glamour enlatado, mas demonstram a grosseria e pobreza ao acionarem a buzina atrás dos pequenos e vagarosos modelos 1.0.

A quem vestiu a carapuça, e vive estressado porque não consegue voar como gostaria, deixo um conselho, um pedido, um clamor:

Vá pescar! Vá rasgar papel! Vá buzinar em outra freguesia! De preferência bem longe daqui. Já que possui uma nave, por que não muda de planeta?

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 17/05/2009
Reeditado em 17/05/2009
Código do texto: T1598886