Marly Costa, poeta guerrilheira
Recebi mensagem de minha amiga Marly Costa, com elogios para serem publicados no meu próximo livreto sobre as coisas de Mari e Itabaiana. Elogios a gente nunca despreza, principalmente vindos de uma pessoa do quilate moral e intelectual de Marly Costa. Por sinal, ela está me devendo uma entrevista que será a mais importante da minha vida de repórter. Acontece que a nobre poeta Marly Costa simplesmente protagonizou um dos maiores episódios da luta armada na Paraíba, nos anos de chumbo da ditadura militar. Ela foi presa em Sapé juntamente com outros guerrilheiros do MR-8, entre eles o hoje mundialmente famoso documentarista Vladimir de Carvalho, filho ilustre de Itabaiana, a quem ela chamava carinhosamente de “Mima”.
Marly foi torturada nas masmorras da ditadura, mas sobreviveu com sua poética lírica e sua ternura intactos. Passou por todos os infernos e saiu invicta, com sua alma pura e nobre. Hoje ela sofre por conta dessas emoções do passado, e as cenas tensas que se passam no seu teatro interior levam à depressão. Só a poesia e o companheirismo dos amigos a salvam desses resquícios demoníacos.
Vamos às palavras de minha particular amiga:
“Falar de Fábio Mozart é para mim motivo de orgulho ímpar. Dizer o que do poeta popular, do dramaturgo invejável, do ator sem par? Dentro de minha insignificância, como apenas uma aprendiz de poeta, devo admitir que sou decididamente sua fã incondicional. Bebo em seus escritos, sorvo todos seus textos como a um bom vinho que degusto com prazer ilimitado. Irmano-me com suas posições políticas, sempre engajado nos movimentos de luta, quer seja na área literária ou na radiofônica. Sua história se mistura com a história do rádio clandestino na Paraíba e em Pernambuco. Seu estilo jocoso, lírico, ternamente contundente consegue agradar a todos, de intelectuais a simples feirantes. Eclético, viaja do popular ao clássico, do cômico ao trágico com uma facilidade enorme. É isso que faz desse titular de um nome tão nobre, o intelectual sério e produtivo que é. Sempre atento a todos os acontecimentos, é uma presença constante, consciente e produtiva para sua região, que certamente se orgulha de ter um filho de tamanha grandeza”.
Só uma ressalva: não tenho nada a ver com rádio clandestino. As rádios onde militei e onde brigo ainda pelo direito à comunicação, todas elas têm endereço, responsável conhecido e identificado, registros oficiais e tudo. O que falta é a licença do Governo, que não atende às leis e deixa de conceder as outorgas. Portanto, clandestino pode ser o governo, e não as rádios populares.
Feita a ressalva, devo dizer que em tudo que escrevo falando dos heróis de nossa terra, dos anônimos e conhecidos guerrilheiros pela justiça e pela paz, pessoas como Marly Costa estão presentes, em alma e sensibilidade, pelo exemplo de vida, peregrinando ao encontro dos nossos fantasmas e vivências.