Queremos a Paz

Fico estupefato quando vejo multidões saírem por aí pedindo pela paz mundial, com cartazes e panfletos, muitos até mostrando-se com corpos nus, gritando palavras de ordem, ou fazendo “panelaço”. Fico triste e, ao mesmo tempo, surpreso quando as pessoas fazem manifestações públicas, pedindo “justiça” (vingança?) pela morte de alguém da família, vítima de uma bala perdida, ou por algum tipo de latrocínio. Também não consigo entender a atitude de revolta de tantos indivíduos que saem por aí, clamando aos quatro cantos a necessidade urgente das autoridades governamentais interferirem com rigor e “energia” (com violência?), para coibir os desmandos dos assaltantes e dos demais representantes da escória da sociedade.

Vou contar um fato ocorrido há mais ou menos seis anos, o qual fornece subsídios incontestáveis para o fortalecimento dos meus argumentos, senão vejamos:

Fui convidado, juntamente com cerca de uma centena de outros, para participar de um grupo de pessoas, com a intenção de se sensibilizar as autoridades, para que medidas de repúdio fossem tomadas contra a violência urbana no país. Pois bem, na primeira reunião havia um número de 54 convidados, cuja pauta foi somente a apresentação pessoal de cada um dos integrantes do grupo. Na reunião seguinte, com a presença de apenas 17 pessoas, muitos “discursos” foram apresentados, muita discussão acalorada, muitos pontos de vista ridículos e inócuos, enfim, como eu não estava ali simplesmente para ser mais um a “pregar no deserto”, solicitei maior objetividade na reunião, sugerindo outra convocação, onde fossem apresentados os pontos de vista de cada participante, mas por escrito, para que se discutisse caso a caso, até chegar-se a um consenso concreto.

Na reunião subseqüente, daí só com 8 pessoas, apenas “um único” participante apresentou seu plano de desenvolvimento de trabalho, chamado “Carta aberta, dirigida ao Grupo de Voluntários pela Paz”, cujo conteúdo se resumia em vários tópicos, como: Proposições iniciais para os planos de trabalho; Estudo e ponderações sobre o ponto focal da violência; Ações a serem tomadas pelo grupo, basicamente com a participação ativa e compacta de todos, deixando de se ficar “pedindo” pela paz, mudando o contexto para o de se “oferecer” para a concretização da expansão da paz, de forma útil e objetiva.

Toda essa proposição foi lida, e até elogiada, parando por aí, sendo que o rumo da reunião passou a ser o da “discussão” sobre a cidadania, até quando resolveram encerrar. Não satisfeitos com toda essa “produtividade”, uma senhora, militante política, achou por bem que nós nos cotizássemos para a confecção de faixas, “pedindo” pela paz mundial, para que nós mesmos saíssemos pelas ruas, aproveitando o momento de comemorações do aniversário da cidade – além disso, outro elemento teve a “brilhante” ideia de imprimir panfletos, para serem distribuídos durante o evento, convidando o povo para vir participar do nosso grupo!

_Que grupo? _Alguém pode responder o que aconteceu com ele? _Quais resultados benéficos foram auferidos através da sua “atividade”? _Ora, fica mesmo difícil engolir tamanha mediocridade, desinteresse e idiossincrasia. Acho que já ficou bem esclarecido o porquê dos meus comentários a respeito dos espetáculos “circenses”, apresentados nas grandes manifestações pela paz e pela justiça.

Também julgo haver respondido sobre o uso da força bruta policial, para coibir as ações dos malfeitores – os resultados havidos com todas essas medidas demagógicas estão bem à vista nos acontecimentos desastrosos que estamos acompanhando cotidianamente – a violência gera a violência, só piorando as coisas, principalmente quando partimos para o revide contra pessoas que não têm nada a perder e que estão sendo “criadas” e “alimentadas” pelos pensamentos, pelas palavras e pelas ações de esmagadora maioria dos próprios moradores deste planeta (os drogados, os caloteiros, os receptadores, os corruptos, os egoístas, os interesseiros, os politiqueiros, os vagabundos, os sonegadores, os agiotas, os traidores, os mentirosos, os irresponsáveis, os “espertos”, os “donos da Verdade” e por aí vai).

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 17/05/2009
Código do texto: T1598479