Paulo, o terrível...

No quintal de terra, gostávamos de levantar tijolos dos canteiros, só pra ver aparecer uns bichinhos, que zonzos corriam. Tocávamos os dedinhos, eles se encolhiam, viravam bolinhas. Paulo, então, recolhia uma porção na palma da mão. Saía dizendo que ia levar pra fazer o feijão. E eu acreditava! Na hora do almoço, só o caldo tomava, e gostava, mas nada de comer tatu. Eu, hein?

Os primos chegavam, os meninos se juntavam e faziam estradinhas. Moviam carrinhos pra lá e pra cá. Meninas não havia, eu ficava sozinha, ao deus-dará. Às vezes, distraída, pisava bem no caminho que eles tinham acabado de fazer.Talvez por vingança, sei lá... Paulo esbravejava, corria atrás de mim. Logo me alcançava, franzia a testa e, com força, me beliscava. Doía. E eu, é claro, chorava. De nada adiantava, pois quando mamãe chegava, ele já fazia micagens e a boba aqui, só ria...

Paulo, José e eu ocupávamos o mesmo quarto. Na hora de dormir, mamãe nos fazia rezar, contava umas histórias e nos dava uns beijinhos. Antes mesmo de fecharmos os olhos, apagava a luz e saía. Assim que a escuridão caía, Paulo me chamava com voz soturna: Beti, Beti, olha o saaapo! Eu piscava, piscava, mas nada enxergava. Só breu. Por via das dúvidas, a cabeça cobria...

Mas logo dormia, e com os anjos, decerto, sonhava.