Por Sobre as Nuvens
A oscilação da temperatura anuncia que em breve o inverno chegará.
Do lado de fora da janela, observo as árvores com as copas quase nuas, as poucas folhas que restam secas e aparentemente sem vida, denunciam o período que antecede à renovação.
Dentre as espécies nas quais as folhas resistem, sem a beleza habitual, é usual ainda a prática da poda dos galhos no período de final de outono e começo de inverno. Parece um tanto agressivo, mas, é profundamente benéfico.
A finalidade da poda de forma geral é a melhoria das condições de vida das plantas, melhorando a entrada de luz, eliminando pragas, fortalecendo, rejuvenescendo e muitas vezes reeducando o crescimento dos novos galhos.
Infelizmente nossa impaciência e urgência na busca de todas as respostas inclusive das perguntas que sequer foram feitas, não nos permite contemplar a semelhança que existe entre a vida vegetal e a vida humana.
Somos feito às plantas e a vida nos presenteia com muitos jardineiros encarregados das podas e, esses nem sempre se atentam à estação correta para realizarem o trabalho. Nem sempre é feita com a ferramenta adequada, nem sempre corta os galhos certos, nem sempre é indolor- na maioria das vezes é quase insuportável- e nem sempre temos discernimento para entender os reais motivos.
Quando tudo parece perfeito – ou quase-, lá vem o jardineiro e poda um galho importante: a perda do emprego, uma doença grave, um acidente, o fim de um relacionamento, a morte física de alguém importante, a distância física entre quem amamos e nós, uma separação temporária ou definitiva, e poderia ainda citar muitas outras situações das quais ninguém de nós conscientemente escolhe ou deseja viver.
Viver, por si já nos impõe situações em que as podas são constantes, senão diárias. E o resultado delas, são as cicatrizes que nos fortalecem e, sobre o tempo, aquilo que os sábios chamam de experiência.
No momento da poda é muito difícil ter frieza para fazer a pergunta certa que não é “por quê?” e sim “o que preciso aprender com isso?”.
São incontáveis as podas que já sofri... Também incontáveis aquelas que já executei por vontade, instinto ou “acaso”.
Posso dizer que na última grande poda que sofri, o que me foi arrancado doeu tanto que parecia não haver remédio, cura ou fosse cicatrizar.
O tempo passou e hoje, entretanto vejo que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. As cicatrizes são invisíveis, aprendi que beleza e juventude nada têm a ver com cronologia e sim com estado de espírito que por sua vez, depende muito mais de decisão e atitude, que meramente do acaso.
Aproveite todas as ocasiões que o céu virar de cabeça para baixo e mantenha-o sob seus pés o máximo de tempo que puder.
Passada a tempestade você experimentará a delícia de caminhar por sobre as nuvens.