Se o meu fusca falasse...
Ele teria tanto a dizer. Primeiramente que entre mim e ele não existem segredos. Ele foi testemunha ocular de momentos bons e ruins de minha juventude que ficou para trás há muito tempo.
Meu idoso querido, nós nos completamos com belas histórias de amor . Temos experiência da vida, sabemos o que é bom e o que é ruim para nós. Outros carros me carregaram por estradas afora, mas nenhum ocupou o lugar especial que você tem dentro de meu coração, daí estar sempre limpinho, com seu local reservado em minha garagem ao lado daquele Audi esnobe.
Viu, eu não me iludo. Nunca troquei amor antigo por novos amores nem me deixei levar por aparências. Você é absoluto com sua cor azul naquele recinto.
As crianças de hoje parecem só conhecê-lo através de filme e chegam a parar-me na rua indagando-me onde o comprei ou de onde você veio. Ora, eu não o comprei. Você entrou em minha vida como presente. Lembro-me de papai presenteando-me com sua exótica figura quando ingressei na faculdade.
Fizemos muitos trajetos, principalmente o de ir e vir da faculdade. Tanto tempo, hein, meu velho! Como eu era insegura! A juventude e falta de experiência me faziam tremer das coisa mais simples da vida.Temporal para mim era um terror. Quando começava a cair chuva, desculpe-me a sinceridade, eu não confiava em você. Trancava-o todo, encolhia-me e ficávamos paradinhos, esperando a bonança chegar. Acho que não confiava em seu tamanho, não que você fosse insignificante para mim, talvez por nos querer proteger.
Os meus namorados, você os conheceu melhor que ninguém, pois era "vela" sem o saber. Passeios pela montanha eram encantadores sempre em sua companhia; as noites enluaradas na praia eram inesquecíveis. Era jovem, sonhadora e adorava namorar em sua companhia.
A maturidade chegou para nós, mas um verdadeiro amor não se perde pelas estradas, sem trocadilho, heim, meu velho, e o nosso fortificou-se cada vez mais. Soube perdoá-lo muitas vezes e não esqueço de quando em uma bela madrugada voltava de uma farrinha com os amigos, o meu carrinho nos deixou na mão. O jeito foi empurrá-lo e você não obedeceu. Tivemos de voltar a pé para casa. E ainda fui obrigada a ouvir:- carro velho é um desastre!
No dia seguinte, iria tomar uma atitude. Iria vendê-lo , mandá-lo às favas, mas o coração falou mais alto. Não se vende um presente. Não se troca velho amor por ilusôes. Resolvi cuidar de você, afinal de contas idoso merece respeito e carinho. Assim , caprichei na revisâo: alinhamento, balanceamento de rodas, troca de bateria. Você ficou tinindo.
Novos passeios, novas andanças aconteceram, mas, nós, sempre juntinhos. Um a cuidar do outro na velhice como seres que se querem bem. Não ligue para o carro que está estacionado ao seu lado na garagem, ele não conhece nada de nossas vidas. É imponente mas nunca viveu um grande amor como nós vivemos, meu inesquecível fusca.
Ele teria tanto a dizer. Primeiramente que entre mim e ele não existem segredos. Ele foi testemunha ocular de momentos bons e ruins de minha juventude que ficou para trás há muito tempo.
Meu idoso querido, nós nos completamos com belas histórias de amor . Temos experiência da vida, sabemos o que é bom e o que é ruim para nós. Outros carros me carregaram por estradas afora, mas nenhum ocupou o lugar especial que você tem dentro de meu coração, daí estar sempre limpinho, com seu local reservado em minha garagem ao lado daquele Audi esnobe.
Viu, eu não me iludo. Nunca troquei amor antigo por novos amores nem me deixei levar por aparências. Você é absoluto com sua cor azul naquele recinto.
As crianças de hoje parecem só conhecê-lo através de filme e chegam a parar-me na rua indagando-me onde o comprei ou de onde você veio. Ora, eu não o comprei. Você entrou em minha vida como presente. Lembro-me de papai presenteando-me com sua exótica figura quando ingressei na faculdade.
Fizemos muitos trajetos, principalmente o de ir e vir da faculdade. Tanto tempo, hein, meu velho! Como eu era insegura! A juventude e falta de experiência me faziam tremer das coisa mais simples da vida.Temporal para mim era um terror. Quando começava a cair chuva, desculpe-me a sinceridade, eu não confiava em você. Trancava-o todo, encolhia-me e ficávamos paradinhos, esperando a bonança chegar. Acho que não confiava em seu tamanho, não que você fosse insignificante para mim, talvez por nos querer proteger.
Os meus namorados, você os conheceu melhor que ninguém, pois era "vela" sem o saber. Passeios pela montanha eram encantadores sempre em sua companhia; as noites enluaradas na praia eram inesquecíveis. Era jovem, sonhadora e adorava namorar em sua companhia.
A maturidade chegou para nós, mas um verdadeiro amor não se perde pelas estradas, sem trocadilho, heim, meu velho, e o nosso fortificou-se cada vez mais. Soube perdoá-lo muitas vezes e não esqueço de quando em uma bela madrugada voltava de uma farrinha com os amigos, o meu carrinho nos deixou na mão. O jeito foi empurrá-lo e você não obedeceu. Tivemos de voltar a pé para casa. E ainda fui obrigada a ouvir:- carro velho é um desastre!
No dia seguinte, iria tomar uma atitude. Iria vendê-lo , mandá-lo às favas, mas o coração falou mais alto. Não se vende um presente. Não se troca velho amor por ilusôes. Resolvi cuidar de você, afinal de contas idoso merece respeito e carinho. Assim , caprichei na revisâo: alinhamento, balanceamento de rodas, troca de bateria. Você ficou tinindo.
Novos passeios, novas andanças aconteceram, mas, nós, sempre juntinhos. Um a cuidar do outro na velhice como seres que se querem bem. Não ligue para o carro que está estacionado ao seu lado na garagem, ele não conhece nada de nossas vidas. É imponente mas nunca viveu um grande amor como nós vivemos, meu inesquecível fusca.