DISSIMULAR PARA VIVER BEM ("Discrição é saber dissimular o que não se pode remediar..." — Vítor Santos)

A sala dos professores era um microcosmo da sociedade: um palco onde se representavam papéis, onde a verdade muitas vezes se escondia por trás de sorrisos forçados. A frase de um velho amigo ecoava em minha mente: "É mais fácil amar os inimigos do que conviver com os colegas de trabalho." A ironia dessa afirmação me acompanhava a cada dia, revelando a fragilidade das relações humanas, mesmo entre aqueles que compartilhavam um mesmo ofício.

A escola, com sua aparente homogeneidade, era um terreno fértil para a hipocrisia. A necessidade de manter as aparências, de construir uma imagem de harmonia, nos levava a reprimir sentimentos e a dissimular nossas verdadeiras opiniões. A história do homem que aprendeu a dirigir me servia de metáfora: no campo aberto, tudo era simples; nas ruas da vida, a complexidade das relações humanas tornava a jornada mais desafiadora.

A convivência em grupo exige um certo grau de adaptação. É preciso aprender a lidar com as diferenças, a negociar conflitos e, muitas vezes, a fingir que tudo está bem, mesmo quando a alma clama por autenticidade. A frase de Dinamor, "Quem quiser vencer na vida deve ter um sorriso nos lábios", resume essa necessidade de manter as aparências. No entanto, essa necessidade de dissimular nos coloca diante de um dilema: até que ponto podemos sacrificar nossa autenticidade em nome da harmonia?

A verdade é que a hipocrisia é um mal necessário em muitas situações. Mas é importante lembrar que ela não pode ser a única moeda de troca em nossas relações. A empatia, a compreensão e o respeito às diferenças devem ser cultivados, mesmo que isso signifique confrontar nossas próprias crenças e valores. Afinal, a maturidade não está em negar nossas emoções, mas em aprender a lidar com elas de forma construtiva.

Ao final do dia, saio da escola com a sensação de ter usado uma máscara por horas a fio. Mas também com a certeza de que a convivência em sociedade exige essa capacidade de adaptação. A questão é: até que ponto estamos dispostos a ir? Qual o preço que estamos dispostos a pagar pela harmonia?

Duas questões discursivas sobre o texto:

De que forma a hipocrisia se manifesta nas relações interpessoais, especialmente no ambiente de trabalho?

Qual o conflito entre a necessidade de manter as aparências e a busca por autenticidade nas relações humanas?