Dignidades Alheias
O bom leitor amigo, o qual por sorte – Com certeza minha – acompanha-me nesta jornada literária, percebe sempre meu jeito impessoal de descrever os fatos, de relatar determinados sucessos.
Apenas em casos exclusivos ponho-me no acontecido, como no caso da Baianidade, ou mesmo em outro, com a entrevista de emprego; tirando estes, e muitos o qual não me recordo, atenho-me sempre como observador sutil, quase omisso aos ocorridos, feito uma serpente no admirar de uma possível presa porem já estando saciada por uma outra.
Não que obviamente todos esses fossem verdadeiros, ou ainda que os sejam, acabam não importando muito se sim, ou se não.
Enfim. Voltemo-nos. Lembro-me como se fosse ontem de uma determinada historia. Afinal fora ontem mesmo.
Não me ponho nela para não causar certo constrangimento entre as partes, todavia poderia ter sido comigo; estava indo meu bom amigo para a consulta com sua doutora. Também não lhe revelo o nome, nem qual a especialidade da dita medica, refiro-me unicamente ao sucedido.
Ele estava já no elevador, preocupado talvez com a hora, ou com a possível esposa, fitava por hora o relógio, em outra os sapatos, como se perguntasse o motivo de ali estar, quem sabe se questionando sobre as questões da vida, quando entra uma mulher.
Provavelmente, ou como ele mo contou, ela trabalhava no prédio; vestia uma roupa comum às pessoas do mesmo, um terninho de uma cor simples, um azul clarinho, sapato alto, rabo de cavalo, e como coincidência, parecia meio atônita, um tanto quanto atarefada, meio apressada, metia-se os olhos hora nos sapatos, hora no teto; foi aí que meu bom e discreto amigo notou-lhe algo de estranho.
Em verdade estranho não é bem a palavra, reparou-lhe a moça algo que lhe sobressaía de todo o conjunto – A partir de meu amigo, bonito da obra – ela tinha uns seios bonitos.
Quando me contou sorri-lhe, mas ele me falou sem constrangimento, que sim, ela tinha bonitos seios, com um decote meio saindo do terninho, fazendo-lhe um belo contorno ao seu corpo. Então, ele de forma singela, não que o esteja defendendo, mas de um jeito extremamente digno, até meio tímido – sejamos francos:
-Posso lhe falar algo?
-Sim, claro, com um olhar meio perscrutador, questionador.
-Você é uma mulher linda.
-Ah, deu um suspiro aliviado, obrigada.
Daí deram a uma conversa introspectiva. Perguntou se lá trabalhava, disse que sim, que há muito, gostava do seu emprego, das suas colegas de trabalho, mesmo achando que o salário poderia ser maior – e quem não acha?
Devo dizer que meu amigo ficou um pouco constrangido; não queria manter aquela conversa por longos minutos – por mais que os sejam simples minutos.
Quis unicamente expor a beleza dela, dizer-lhe com palavras as quais fossem capazes de descrever o quão era linda aquela criatura.
Não por ser apenas retraído e gostar muitíssimo da sua esposa, em verdade talvez por esses motivos e o fato do elevador ter chegado no seu andar não tomou o numero de seu telefone.
Mas digo, quis ele ser respeitoso com ela, de uma forma simples e desculpem-me a palavra, honrada.
Fastio de conversa ele me revelou por fim.
Fitava de semblante impassível os olhos da moça com seios exuberantes enquanto ela falava, e via não apenas um castanho claro marcante, o qual contrastava ainda mais com aquele corpo belíssimo, via também o quão raso era aquele ser; tão acostumado a ouvir elogios grosseiros e tratamentos desmerecidos, pareciam que suplicavam uma companhia como a dele.
Não digo que o amava, ou que o achara a sétima arte, afinal meu amigo não é o que podemos chamar de Deus Grego; almeja ela somente um ouvir, um falar, um respeitar como dele em aquele curto espaço de minutos fazia, já de tão habituada ao desmérito; despejava sua alma presa na sua garganta, com pedidos claudicantes de socorro nos ouvidos ternos do meu bom amigo.
Ele o fez. Ouviu – Ao menos o que pôde – aquele derramar sôfrego como o de um rio nas águas por hora dulcidas e ternas do mar. Quando saiu estava exaurido, e ela sem uma única duvida me revelou, deveria estar além de surpresa, mais calma, aliviada.
-Nem falou do meu decote.
Concordo integralmente com ele.
Devemos respeitar o nosso próximo – às vezes tão habituado com a falta do respeito. Porque respeito não se adquire, se delimita, ou se exige. Se você se respeita, acaba respeitando o seu próximo – por mais fastidioso que isso seja...