Quando o amor não se completa

Assistindo a um dos últimos filmes de Wood Allen, anotei uma frase dita pelo seu personagem principal, num diálogo com duas mulheres a quem ele desejava conquistar: “o amor só é romântico quando não se completa”.

Fiquei refletindo sobre o pensamento do roteirista. Em verdade, a incompletude dos amores, sob qualquer ângulo em que se projete, encontrará eco no pensamento. Nada inusitado quando se fala sobre o amor.

Os amores proibidos, os desfeitos, aqueles utópicos ou impossíveis, os que nunca chegaram a se unir, são esses que provocam dores, deixam marcas. Os que nunca tiveram a coragem de se assumir, que fugiram das convenções sociais ou raciais, os que não foram correspondidos por mil e uma razões, os que se tornaram tatuagens.

Nos amores em que uma pessoa apenas ama a outra, esta vive romanticamente esperando um simples olhar daquela, quase sempre se humilhando em nome de pobres migalhas, de pequenos gestos de atenção. Muito pior vivem aquelas que se apaixonam por alguém que sequer sabe dessa paixão. Amor quase doentio, fantasia eternamente incompleta. Um inferno sem fim. Amores neuróticos, fadados às tragédias.

Há os que se cansam de esperar pela pessoa amada, no desejo de se ver um dia a ela unida. Acabam por vir a casar com uma terceira pessoa que verdadeiramente a ama, e entre a frustração do nada e a companhia do que lhe tem amor, consumam essa farsa. Casamentos de curta duração. Intolerância em longo prazo.

Ah... o que seria dos poetas, dos compositores, dos que vivem da arte de esculpir ou pintar, se não fossem os amores incompletos! Milhares de palavras, milhões de frases, volumes inteiros dedicados aos sentimentos da perda de um amor.

Romeos e Julietas - cantados em versos e prosas - construídos de lágrimas, de corações partidos, almas destroçadas, mentes enlouquecidas pelos amores que não se completaram.

Shakespeare, Pessoa, Vinícius, Drummond, Bandeira. Garcia Marques e seu Amor no Tempo do Cólera, em que o personagem esperou cinqüenta anos para completar um amor, vivido desde a adolescência. A Odisséia de Homero jamais teria o romantismo se Helena e Paris tivessem completado o seu amor.

Não poderia finalizar, pois isso jamais teria fim, diria apenas como falam os poetas: “a beleza da pérola encontra-se na dor da ostra”...

E la nave va...

L U C I A N O

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