BARRIGUDEIRA
Nesta época do ano, é sempre ruim para os negócios, essa coisa do clima se alternar do calor ao frio durante o período do dia, me força á reflexão: agasalhar ou não e, na opção errada, sofro como calor. Moro e trabalho ao lado de uma escola pública, cercada por muros altos, nada que impeça escapar o burburinho frenético dos alunos em suas atividades sejam esportivas ou festivas, mas é como música os gritos de alegria e suas risadas quando passo para ir ao bando e às vezes sob um sol implacável.
Hoje tive o prazer de atender uma cliente simpática, á procura de caixas para organizar uma mudança. Iria vender seu apartamento e comprar ma casa. Num breve bate papo, descubro ser uma professora aposentada que lecionou neste colégio por um longo período e agora quer vender o apartamento, mas o que mais me impressionou foi o desejo expressado de adquirir uma casa, onde pudesse plantar grama para poder andar por ela com segurança e livre de alguma sujeira desagradável. Além disso plantaria uma árvore, ipê amarelo, para poder apreciá-la em sua floração. Na hora me lembrei da barrigueira ao lado da escola, imensa e formosa com sua copa maravilhosa repleta de flores de cor rosa.
È o meu ponto há muito de descanso, nas minhas idas e vindas. Ela possui um tronco imenso em forma de uma barriga repleta de espinhos, que mais parecem pontas de espadas a avisar os incautos: estou aqui não me incomodem, tenho que produzir flores, e em breve sementes envoltas em plumas para viajar ao léu, carregadas pelo vento, para se tornarem árvores com flores para colorir outros caminhos. Eu não ando só sempre conduzido por alguém, e outro dia tive uma breve conversa ao pé da barrigudeira:
- O que ela te parece?
- Eu não gostaria de estar distraído e dar uma topada nesses espinhos que mais parecem pontas de espadas.
- Pois me lembra uma mulher grávida com flores em seus cabelos a soltar pétalas.
- Visão romântica, não passa disso.
- Como alguém como você pode ter uma visão tão seca dessa maravilha? Olhe bem se de fato ela não é linda e com uma sombra que refresca até a alma.
-Olhe em sua volta. Essa calçada está toda quebrada com suas raízes.
-Estou numa sombra fantástica de uma barrigudeira, e se você respirar pausadamente, sentirá o perfuma que nos envolve. Vamos lá, encha os pulmões e se deixe envolver por esse momento.
-O ar esta extremamente seco, o sol impiedoso, e você ainda quer que eu respire fundo e pausadamente? Faça-me o favor, cai na real, se fizer isso no mínimo caio duro.
- Desisto, o jeito é curtir esse breve momento em silêncio.
- Desiste de mim ou de você?
- De tentar fazer você enxergar alguma coisa ao invés de só ver. Eu acho que o que eu gostaria que ele visse era o ar de renovação de esperança, perpetuação ou alguma coisa parecida. A minha cliente coloca por sobrenome o ano vindouro, agora dois mil e cinco, até á próxima virada de ano que será registrado no sobrenome, talvez para lembrar a todos que renasceu com novos objetivos e outras esperanças no amanhã. Acho que é isso que eu gostaria que ele visse, que apesar de espinhos há flores sobre as a calçada destruída. Agora estou em vias de me colocar à disposição da ciência de ponta, na cura da esclerose múltipla, com introdução de célula tronco, para também conseguir a minha renovação neurológica. Ribeirão Preto será a minha barrigudeira