Sivuca genérico tocou um baile na França

Se eu contar ninguém acredita. Mas quem conta é Fernando Morais, autor do livro “Chatô, o rei do Brasil”, biografia do paraibano Assis Chateaubriand, o irresistível e amoral chefão da máfia da comunicação que atendia pelo nome de Diários e Emissoras Associados.

Na qualidade de paraibano adotivo, adianto que Chatô, só nasceu na Paraíba, mas fez curso de cafajeste em Pernambuco e doutorado em malandragem na então capital federal, Rio de Janeiro. O ultra conservador Gilberto Freire defendia que Chateaubriand assumisse sua condição de pernambucano, “pois foi em Pernambuco que ele teve sua formação intelectual”.

O “pirata da Paraíba”, como o chamou a revista americana Time em uma reportagem-perfil publicada em 1957, inventou de realizar um baile no castelo de Coperville, nas cercanias de Paris. O projeto era apresentar o Brasil para os europeus, mostrar o “verdadeiro Brasil que a Europa não conhece”. Para isso, pegou dinheiro com empresários brasileiros e acabou promovendo um espetáculo que foi o grande escândalo social de 1954. Só para levar os cem convidados brasileiros, Chateaubriand fretou dois aviões da Panair, sem contar os vôos especiais com as orquestras, músicos e sambistas. Fernando Morais narrou assim:

“Os jardins do castelo foram invadidos pela Orquestra Tabajara da TV Tupi, tocando um frevo pernambucano. Atrás vinham Elizeth Cardoso, Ademilde Fonseca, Zé Gonzaga, Jamelão e Pato Branco, um sanfoneiro albino que se fazia passar pelo músico Sivuca, que não pudera comparecer, e cuja presença na festa tinha sido exigida pelo dono dos Associados”.

Foram 205 mil dólares esbanjados naquela orgia em Paris. O jornal Tribuna da Imprensa castigou: “A farra em Paris teve a indulgente presença da mulher do Presidente da República, Getúlio Vargas, e de sua filha, constituindo-se uma afronta às dificuldades com que luta o povo brasileiro. “O pai dos pobres” não é capaz de explicar com que dólares foram custeados esses aviões especiais, essa revoada de aventureiros que participaram da dispendiosíssima bagunça no castelo de um novo-rico”.

Para nós fica a perplexidade de ver que Chatô realmente não tinha amarras morais de qualquer espécie. Não podendo contar como Sivuca na festa, contratou um genérico.

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 16/05/2009
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