VOCÊ VEM SEMPRE AQUI?

Gente, agora é sério, o apocalipse está próximo. Não, não tem mais volta, não adianta acender vela para São Jorge ou usar aquele telefone vermelho, linha direta com Santa Rita (minha tia tem um desses na mesinha de cabeceira). Explico. Eu dava uma sapeada no G1 (portal de notícias da Globo) quando me deparei com a seguinte notícia: Solteiras de São Paulo se preparam para a passeata dos sem-namorado. Pois é... Então, e agora, o que dizer? Sinceramente, tamanho desespero só pode significar uma coisa: o fim do mundo. Já não bastava termos de lidar com aquecimento global, lixo nuclear, Ricardo Teixeira, desigualdade social e agora temos mais essa.

E faço esta constatação não apenas pelo absurdo do evento, mas também pelas declarações das moçoilas que se prestaram a aparecer na matéria (que, creio, seja uma necessidade narcisista, contemplada apenas por teorias freudianas, de ser celebridade mesmo que apenas em uma página de internet). Pois vejamos. Uma delas disse “Não me venham com um: ‘Você vem sempre aqui?’ e nem com aquela conversa de bar ou de balada. Se a gente vai para a passeata é para fugir desse perfil cafajeste.” Que opinião, que opinião! Palmas, please.

Primeiro, se o cara mandar um “você vem sempre aqui?” na passeata é algo inusitado, sinal de que ele tem bom humor pelo menos e merece uma chance. Um amigo, num carnaval qualquer, ficou com uma menina mandando essa – só que eles estavam na balsa, atravessando a Baía de Guaratuba. Segundo: meninas, se há uma coisa que teremos nessa passeata é cafajeste. Cafajestes e nerds. Para ir numa parada dessas ou o cara também está desesperado – e deve ser um babaca – ou é um canalha, que tomará todas antes, e que chegará apavorando geral como se estivesse numa micareta. Aliás, não deixa de ser uma micareta, não é verdade? Ou seja, não inventaram a pólvora.

Consta na matéria que a passeata está sendo organizada por um site de relacionamentos. Os organizadores alegam que uma mulher não encontra a tampa da sua panela porque esta não freqüenta os mesmos lugares que ela. Peraí, peraí, peralá... quer me dizer agora que se a pobre-coitada-solteira-desesperada não achou seu par perfeito no trabalho, na faculdade, na academia, no barzinho, na balada, no show, na vizinhança, no mercado, na viagem de férias, no encontro de pais e mestres, na reunião do AA, naquele atropelamento em que ela foi responsável, no MSN, no Orkut, no casamento da melhor amiga (cujo buquê não caiu em seu colo por centímetros) será numa passeata que ela encontrará? Hum! Então tá.

Já pararam para analisar que o “problema” pode estar na própria pessoa? Minhas caras irmãs cajazeiras, vocês precisam atentar ao fato de que nem sempre uma multidão reunida é sinal de maiores probabilidades de se achar o príncipe encantado. Vocês podem acabar, sim, num baita brejo (perdão, Sapo, foi só uma brincadeira). Pior, não se deixem levar pela proximidade do Dia dos Namorados... Eu sei, eu sei, não chora vai.

O fato é que você, moça de família e preparada desde pequenininha para o matrimônio alvo e casto, não pode se entregar tão facilmente ao brigadeiro de panela, sorvido sob um edredom durante a apresentação do filme Como se Fosse a Primeira Vez, pura e simplesmente porque não tem namorado. Limpe esse rosto, coloque o travesseiro encharcado de lágrimas para secar e recomponha-se. Que que é isso?! Você é muito melhor que esses homens que não te merecem. Faça-me um favor!

Agora, se você não resistir e quiser se entregar tresloucadamente a essa passeata na esperança de encontrar o amado amante antes que os Cavaleiros do Apocalipse desçam com seus equinos cuspindo idade, rugas, estrias e força da gravidade sobre as hostes de esperança, não se preocupe. Além da de São Paulo (dia 17), você terá uma segunda edição da passeata no Rio. Duas chances, eba! Afinal, nunca se sabe de onde surgirá um nobre impoluto que virá para resgatar-lhe das garras da maquiavélica solteirice.