O que vem primeiro
Hoje terminei a minha leitura do livro "A paixão segundo G.H.", de Clarice, e comecei a pensar sobre o mais comum dos temas da literatura: o amor. Esse sentimento que assola qualquer um com a sua imprevisibilidade previsível do amar. No entanto, fiquei bastante reflexivo com a enxurrada de sensações trazidas pela leitura.
Elas foram tão fortes que me impulsionaram a retormar o meu "vício", já abandonado no meio de tantas outras tarefas de minha vida. Talvez isso não seja nada diante do que amamos. Amar é mais do que pulsão. E tudo pareceu claro após o livro.
A grandiosidade dessa obra está no seu chamamento então. A cada página, senti a escritora ao pé do meu ouvido com as sonoras palavras do silêncio feminino. Por isso, gosto demais da Clarice. Alguns diriam que esse gostar deve-se ao fato desta ser fã do Lobato, o meu escritor favorito. Não, amar vai muito além disso.
O meu exemplo não foi feliz, mas a felicidade bordeja nos momentos mais indecifráveis da vida. Isso explica as noites que passamos pensando em alguém e à procura do entendimento do que sentimos. Logo, entendemos a maior significância não cabível em "quês". Afinal, à pessoas nutrimos o verdadeiro "amor" e aos objetos, a adoração. Há controvérsias sobre o "adorar"...
Entretanto, o adoro você pode não ter a mesma força do "admiro".
Tal complexidade faz parte da vida. Essa, então, nem se fala. Mas o que fazer quando as palavras não sustentam o mundo idiossincrático da sensibilidade? Em outras palavras, o nosso sentir é algo inaudito e um escritor desafia isso. Daí lembrei de outras formas de amar. Amo a escrita, embora ainda não possa viver dela.
E lembro que a minha primeira poesia nasceu com obrigação...Na escola, a professora me pediu para escrever sobre Francisco de Melo Palheta, um senhor desses de engenho. Aquela poesia ainda surgiu em coautoria com o amigo Fábio. Era treslocada como os seus compositores, mas perfeita aos olhos do "amadorismo".
Depois vieram os amores de verdade e entre poesias e poesias fui me tornando um cara menos racional. O estranho foi perceber o prejuizo dessa mudança no mundo atual. Não sei mais se existe o café palheta que homenageava aquele barão de engenho, enquanto eu perco, a cada momento, o meu espaço como inumano diante desse estranho lugar "humanizado" pelo racionalismo.
Já nem tenho a amizade com esse cara que abraçou o lado humano da vida. Ele se tornou uma pessoa rude e entendeu a vida do seu modo. Mudou a própria concepção de amor com o seu jeito áspero de se esconder do cotidiano. Tudo bem. Não ligo mais. No entanto, sou um poeta e aprendi a amar.
Assim como fui zombado por minha paixão, embora prefira sempre falar de "amor". Fui zombado por acreditar em coisas simples. Não perdi nada sei, mas quando se sente de verdade, somos capazes de sentir a dor do outro. Isso se chama a bendita compaixão. E ultimamente vejo as pessoas desistirem do amar.
Imaginem se não fosse sensível ao que leio ou percebo da vida. Seria um fantoche de razões humanas do ser com o outro. Por isso, os escritores encontram nesse sentimento inaudito a substância do viver. Todos se encontram no infinito interminável do finito prazer do ler e do escrever. Assim, a paixão é segundo tal... Para mim não há paixão! O que vem primeiro é o amor.