EU ODEIO FANDANGOS

Depois de meio século sonhando com um banco vazio, consigo sentar, enquanto o coletivo continuava indo, so indo em seus tartarugar.

Prazer supremo para os pés, orgasmo para as costas, a bunda senta o corpo num supremo descanso e relaxo, com os olhos fechados a imaginar que alegria é sentar, o vento da janela batendo na cara, jornada perfeita para o trabalho, se não fosse os fadangos: a pessoa sentada ao meu lado, abre o saco de salgadinhos e começa a comer um por um, crac, crec, crac, na boca a mastigar e a quebrar o salgadinho em mil pedacinhos que fazem mais crac ainda, no ritmo da boca mastigando, dos dentes triturando aquela gosma amarela que parece querer me enlouquecer, crec crando a me irritar.

Bate estaca na minha alma, a moça dos fandangos é o pesadelo daqueles que acabaram de tomar seu desjejum e sabe que não há nada mais medonho que gente comendo no ônibus; não há nada que cause mais repulsa que milho cozido em pratinho na sua cara, que sanduiche explodindo em mordidas no seu nariz, que cheiro de comida misturado com saliva dançando no ritmo ruminante do se alimentar com todo o ônibus te olhando.

Estamos num ônibus, moça, cada cheiro é ampliado ao extremo, cada mastigada sua é um convite para a minha ânsia de vômito. Para com isso, está todo mundo correndo, mas cada coisa em seu lugar, ônibus lotado não é lugar para se alimentar, nem a criança está comendo, nem a velha, portanto, para com isso, antes que eu pegue esse seu fandangos e jogue pela janela.