Quando não está quebrado, está atrasado

Lendo o título acima vocês podem estar imaginando alguma caranga velha, aquela aonde você permanece mais fora consertando e empurrando, com a mulher e as crianças perguntando se já arrumou, do que dentro dela desfrutando um belo passeio de fim de semana. Na verdade esse título foi inspirado em uma estória ocorrida há uns quatro anos, quando entrei na universidade para cursar Educação Física.

Como trabalhava e morava em um município diferente da onde se localizava a universidade, resolvi contratar uma empresa especializada em transportes de alunos universitários. Nada mais natural, afinal o conforto, a comodidade, a segurança e claro a pontualidade faziam a escolha óbvia não só para mim, como para os outros também, – bom assim imaginávamos –, um ônibus de linha convencional conseguia fazer o percurso em 1h e 20 min, o nosso em pouco mais de 50 min.

Bom o semestre estava iniciando e já na primeira semana o busão quebrou na saída da cidade – o que seria apenas o primeiro de muitos – vindo ser posteriormente o ônibus apelidado carinhosamente de “SUCATÃO”, logo um tumulto dos mais nervosos (coitados desses, se soubessem a odisséia que estava por vir) foi controlado e a viagem prosseguiu normalmente apesar das reclamações – e seriam tantas -.

Nas três semanas que vieram o “SUCATÃO” andou normalmente (quando a esmola é demais até santo desconfia) e não deu outra, durante o trajeto ele resolveu quebrar mais uma vez, os ânimos aumentaram, mas como não adiantava falar mal – ai dele se fosse movido a palavrões – logo se acalmavam e ficavam resmungando uns para os outros, claro que a turma do “DEIXA A VIDA ME LEVAR” não estava nem aí, para eles tudo era festa.

Daquele dia em diante, (Só por Deus) foi uma zica seguida da outra, conhecem a Lei de Murph??? - começou errado, não adianta vai continuar dando errado – as desculpas para os professores tornaram-se constantes, e creio que assim era para todos, acostumaram de tal forma que bastava olhar e piscar pronto já sabia. Para “melhorar” a situação, o trânsito na rodovia começou a ficar parado (o que fez a empresa antecipar em cinco minutos a saída do “SUCATÃO”).

Vocês podem achar um exagero, calculo umas dez quebras em todas as partes possíveis da porcaria do busão: correia do motor, pneu estourado, rodo ar quebrado, parafuso que prende a roda, mola, amortecedor, mangueira do radiador, problema elétrico, quase mudei o curso para mecânica ou fiz um paralelo ao de Educação Física.

O pau quebrava em cada situação dessas, os palavrões??? A vontade e de todos os gêneros, graus e números, o motorista “pé-frio do caralh...” coitado ouvia sem dar um “pio”, aí de ele abrir a boca. Semana de avaliações tínhamos que apelar para os céus, rezas e mais rezas, orações, valia tudo para tentarmos chegar no horário, até os mais céticos entravam no meio – falar a verdade???? Até o diabo apelaria ao Senhor nessa hora – ficou decidido que na próxima quebra o “SUCATÃO” seria aposentado de forma digamos “voluntária” e o motorista “puta de um defunto” iria junto.

Não deu outra no meio da rodovia, já sabem né??? A muvuca estava armada, o circo ia pegar fogo “literalmente” o “defunto” filho de uma put... Foi o primeiro a descer, ligando para o dono, que vendo o prejuízo iminente, em 25 min – incrível – chegou ao local, foi recebido com muitos “elogios” filho da put..., vai toma no c.., vai se fud..., vai pra casa do cara..., vai pra put... que te pariu, esses foram os mais simples, alguns inusitados, que vou dizer não conseguiria escrever foram ditos, até a turma do “DEIXA A VIDA ME LEVAR” queria pegar o cara.

Sem alternativas, e com o c... na mão – quem tem, tem medo – resolveu a situação da maneira mais direta, abonou em 100% a mensalidade, em minutos o caos acabou e a calmaria voltou, ainda parados no meio da rodovia decidiram engordar a vaquinha para a última festa, a de despedida do semestre e do “SUCATÃO” . Vou falar, que festão, que não era no “APÊ”, mas no velho “SUCATÃO”, a bagunça rolou solta, muita música, refrigerante, cerveja e para não perder o costume outra quebra.

Naquele momento com a muvuca rolando podia virar a madruga, esquentar para quê??? Bão também. Não vou negar que durante o semestre – caracas como passou rápido – teve momentos felizes e bons, piadas, paqueras, roda de violão, início de namoros. Confesso que sinto saudades (por estranho que pareça) de tudo aquilo, principalmente do velho “SUCATÃO” que quando não estava quebrado, estava atrasado.

Valeu “SUCATÃO”!!!!!!! Só um detalhe ele continua rodando, mas em outra linha hahahahha...

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 15/05/2009
Reeditado em 25/10/2009
Código do texto: T1595006
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